O que é escoliose? Especialistas falam sobre diagnóstico, tratamentos e cuidados

Trata-se de uma deformidade que leva a uma curvatura anormal da coluna vertebral no plano frontal, ou seja, quando ela se desvia para os lados, formando um “S” ou “C”

Saúde & Bem Estar - Cassia Motta

Data 01/07/2025
Horário 07:28
Escoliose pode ser classificada em diferentes tipos, de acordo com sua causa e momento de aparecimento

Segundo o ortopedista, traumatologista e médico do esporte, Agessander Manoel Junior, a escoliose é uma deformidade que leva a uma curvatura anormal da coluna vertebral no plano frontal, ou seja, quando a coluna se desvia para os lados, formando um “S” ou “C”. Essa deformidade pode vir acompanhada de rotação das vértebras, o que pode piorar ainda mais o problema. Junho marcou o mês de conscientização da escoliose, também conhecido como "Junho Verde".

O especialista explica que, embora a escoliose possa surgir em qualquer fase da vida, inclusive como consequência de processos degenerativos inerentes da idade, a forma mais comum é a escoliose idiopática do adolescente, que aparece entre os 10 e 18 anos e representa cerca de 75% dos casos. “Nessa fase, o crescimento rápido favorece a progressão da curvatura e é necessário maior atenção por parte dos cuidadores”. 

Tipos de escoliose

A escoliose, explica o ortopedista, pode ser classificada em diferentes tipos, de acordo com sua causa e momento de aparecimento. A forma mais comum é a escoliose idiopática, que surge sem causa aparente e afeta principalmente adolescentes, sendo mais frequente em meninas entre 10 e 18 anos. 

Já a escoliose congênita está presente desde o nascimento e decorre de malformações nas vértebras. A escoliose neuromuscular está associada a doenças que comprometem os nervos e músculos, como paralisia cerebral e distrofias musculares, e costuma ser mais grave. 

Em adultos, pode ocorrer a escoliose degenerativa, provocada pelo desgaste natural da coluna, como artrose ou osteoporose, geralmente após os 60 anos. Há ainda a escoliose secundária ou sindrômica, que aparece como consequência de outras doenças, como a síndrome de Marfan ou neurofibromatose. Por fim, existe a escoliose postural, que não é uma deformidade estrutural, mas sim uma alteração transitória relacionada à má postura ou assimetrias no corpo, sendo reversível com o tratamento da causa.

O médico ressalta que a escoliose, além do impacto estético, que pode afetar a autoestima, curvaturas acentuadas podem causar dores nas costas, rigidez muscular, alterações na marcha e, nos casos mais graves, comprometer a função pulmonar e cardiovascular devido à compressão torácica.

Diagnóstico

O diagnóstico começa com uma avaliação clínica detalhada, incluindo o teste de Adams (flexão do tronco para frente), observação postural e mensuração da simetria corporal. A confirmação e a medição da curvatura são feitas por meio de radiografias da coluna, que mostram o ângulo de Cobb — parâmetro que guia a conduta médica. “É essencial procurar um ortopedista assim que houver qualquer suspeita, como ombros ou quadris desalinhados, cintura desigual ou uma escápula mais saliente. O diagnóstico precoce permite acompanhar e intervir antes que a curva se agrave, evitando deformidades permanentes ou complicações futuras”.

Tratamento

Agessander ressalta que o tratamento depende da idade do paciente, grau da curvatura e potencial de crescimento ósseo. “Pode incluir apenas observação, fisioterapia especializada, uso de coletes ortopédicos [quando indicado] e, nos casos mais avançados, cirurgia. Exercícios físicos regulares também auxiliam na estabilização postural e no controle da dor”.

A cirurgia é indicada quando a curva ultrapassa 45 a 50 graus, especialmente em pacientes em crescimento, ou quando há sintomas importantes, como dor crônica ou comprometimento respiratório. “O objetivo cirúrgico é corrigir e estabilizar a coluna, prevenindo a progressão e melhorando a qualidade de vida”.

Como evitar 

O médico explica que, infelizmente, na maioria dos casos, como na escoliose idiopática, não há como prevenir a condição, já que sua causa ainda é desconhecida. No entanto, a detecção precoce é a principal forma de controle. “Estímulo à atividade física, atenção dos pais e exames regulares durante a infância e adolescência são fundamentais para identificar alterações posturais a tempo de tratá-las adequadamente. Uma vez identificada, os exercícios físicos tornam-se essenciais para evitar a progressão da curvatura, especialmente durante a fase de crescimento”. 

Segundo o médico, a fisioterapia baseada no método Schroth é a mais recomendada, por empregar técnicas tridimensionais de correção postural, respiração dirigida e fortalecimento muscular assimétrico. Outras abordagens eficazes incluem o pilates adaptado, com foco na estabilização do core e no alinhamento postural, além de exercícios de alongamento e fortalecimento da musculatura paravertebral, como pranchas e elevação de quadril. A natação pode ser utilizada como complemento para ganho de mobilidade e resistência, mas não substitui o tratamento direcionado”. É fundamental que o programa de exercícios seja individualizado e supervisionado por fisioterapeuta especializado, respeitando o tipo e a localização da curva, para evitar assimetrias que possam agravar o quadro”.

Importância da fisioterapia

Diogo Luis Pernas, que é fisioterapeuta, osteopata e terapeuta psicocorporal, diz que a fisioterapia entra como ferramenta de reorganização do movimento e do tônus postural. “Combinamos técnicas manuais, osteopáticas e exercícios terapêuticos específicos, que promovem consciência corporal, mobilidade e fortalecimento assimétrico”.

Segundo Diogo, também são utilizados recursos de reprogramação postural para reequilibrar os captores sensoriais, muitas vezes em parceria com outros profissionais, como dentistas ou oftalmologistas. “De acordo com as evidências atuais, os melhores resultados ocorrem quando o tratamento é precoce e multidisciplinar, atuando não é apenas sobre a coluna, mas sobre todo o sistema de controle postural e neuromuscular do paciente”.

Como fisioterapeuta, ele acredita que o tratamento da escoliose precisa ir além da correção mecânica postural. O paciente deve buscar as causas que levam o corpo a se reorganizar em torno de uma curva. “Na osteopatia, entendemos o corpo como uma unidade. Alterações de mobilidade em articulações, vísceras ou fáscias podem gerar tensões que repercutem na coluna. A escoliose, muitas vezes, é o resultado de uma cadeia de compensações que o corpo faz para se manter em equilíbrio”.

Já pela abordagem da posturologia, o sistema postural é regulado por captores sensoriais: os olhos, a boca (ATM) e os pés. Se algum desses sistemas estiver em desequilíbrio, o corpo compensa com torções e adaptações que, com o tempo, podem favorecer o surgimento ou a progressão da escoliose como, por exemplo, um problema visual, como dificuldade de convergência ocular, pode gerar assimetrias na musculatura cervical. Distorções na mordida ou disfunções na articulação temporomandibular alteram o tônus postural e a posição da cabeça. Assimetrias nos pés, como pronação excessiva ou dismetria, criam uma base instável e forçam ajustes em todo o eixo corporal.

“Cada escoliose é única e merece um olhar singular. Quando tratamos apenas a curva, corremos o risco de silenciar o corpo, mas quando compreendemos a história por trás dela, abrimos caminho para uma verdadeira reorganização física, sensorial e emocional”.

Fotos: Cedidas


Agessander Manoel Junior é ortopedista, traumatologista e médico do esporte


Diogo Luís Pernas é fisioterapeuta, osteopata e terapeuta psicocorporal

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