O que uma cidade escolhe preservar?

OPINIÃO - Helber Henrique Guedes

Data 27/12/2025
Horário 05:00

No Natal, como acontece quase todos os anos, retorno à cidade onde nasci, cresci e vivi boa parte da infância e da adolescência, viajo para visitar minha mãe e minha família. A pergunta surge quase sem pedir licença: o que permanece quando voltamos? Ruas mudaram, praças ganharam novos usos, prédios surgiram onde antes havia encontros. Mas há algo que nos atravessa o tempo todo, é a memória coletiva que dá sentido a um território. É a partir dela que uma cidade reconhece a si mesma e decide que futuro quer construir.
Presidente Prudente vive um momento em que essa reflexão se torna inevitável no debate atual. Somente em 2025, o município voltou a acessar políticas públicas nacionais, com mais de R$ 160 milhões em transferências diretas, além de investimentos que impactam áreas estratégicas como saúde, educação, assistência social, cultura e geração de trabalho. Nesse período, programas como o Bolsa Família, que somou mais de R$ 55 milhões no município, o fortalecimento da atenção básica em saúde, a ampliação do Pé-de-Meia para estudantes da rede pública, o avanço de políticas habitacionais e o fomento à cultura por meio de recursos federais mostram como essas ações chegam ao cotidiano da população. 
O que define o futuro de uma cidade é a forma como ela debate, decide e preserva suas escolhas. O debate público qualificado não é um detalhe do processo democrático ele deve ser a sua base. Quando informações são fragmentadas, quando decisões são tomadas sem diálogo ou quando a participação social é tratada como obstáculo, o que se enfraquece não é apenas uma política específica, mas a confiança coletiva nas instituições.
Cidades não se constroem apenas com obras, números ou inaugurações. Elas se constroem com vínculos, práticas culturais, espaços de encontro e memória viva. Preservar não significa congelar o passado, mas reconhecer que há trajetórias coletivas que sustentam o presente. Quando essas trajetórias são ignoradas, abre-se espaço para uma lógica de curto prazo, em que decisões atendem a conveniências momentâneas, e não a um projeto comum de cidade.
O avanço de Prudente — assim como de qualquer município — depende da capacidade de articular planejamento, informação correta e participação social. Saúde pública, educação, políticas de renda e cultura exigem estabilidade institucional, escuta e transparência. Sem isso, programas se fragilizam, políticas se interrompem e a população se afasta dos processos decisórios.
Aprender a reconhecer uma cidade é também aprender a reconhecer aquilo que ela escolhe preservar. Há cidades que preservam apenas resultados imediatos; outras preservam laços, memórias e modos de viver. Como lembram reflexões contemporâneas sobre cidade e território, o futuro não é uma promessa abstrata: ele nasce da relação com o passado e da capacidade de manter vivas as construções coletivas que dão sentido à vida urbana.
O debate público não elimina divergências — ele as organiza. É um compromisso com o futuro. Um futuro que não se constrói a portas fechadas, mas na escuta, no diálogo e no reconhecimento de que uma cidade só avança quando decide preservar aquilo que a torna, de fato, uma comunidade.
Reflexões inspiradas em “Futuro Ancestral”, de Ailton Krenak, discutidas por Felipe Milanez na revista Ecologia Política.
 

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