O homem, antes eloquente, deu-se, nos últimos tempos, ao capricho de falar pouco, muito pouco. De início, apenas o trivial e indispensável, com o tempo, tornou-se mudo, tamanho silêncio. Não tinha predisposição a ser taciturno, algo que não lhe convinha, dada sua atividade laboral. Quando questionado, dizia sempre, como Bartleby, que preferiria não responder. Entretanto, era impossível manter-se assim, nessa impassibilidade indizível.
Comparecia a reuniões e outras atividades sem dizer palavra e isso sempre fora motivo de incômodo, desde tempos imemoriais, ainda agora, em nossos tempos, isso ainda tinha ares de aversão aos hábitos sociais, arraigados e inquestionáveis. Certa vez, cansado de tantas questões que direcionavam a ele, colocou-se a pensar em seus motivos, suas razões íntimas para semelhante comportamento. Curiosamente, ele mesmo não tinha tido, ainda, curiosidade com essa questão.
Pensou muito e concluiu que, em verdade, talvez ele tivesse pouco a dizer, e mesmo a ele, intelectual de profissão, aquilo soaria ridículo, afinal, o julgavam grande conhecedor de muitas coisas, infinitas e mesmo ele acreditara nisso, até recentemente, quando ainda falava. Julgou, isso sim, que talvez soubesse pouco do muito que há a saber e o que sabia tornava-se, diante dessa constatação, quase nada, de modo que o melhor a fazer é abster de falar, sem o saber, do que deves dizer.
Essas razões pareciam-lhe suficientes, mas indagando a si mesmo e aos outros, nesse caso, não por palavras, que não pronunciava, mas pela observação, arguta e paciente, pensou que talvez o convívio social não fosse exatamente aquilo que gostaria que a vida fosse, e assim tinha sido, para ele e para todos os demais, desde que o mundo é por nós conhecido. No fundo, talvez o problema fosse uma indisposição para o convívio social, onde as palavras reinam e todos falam em demasia.
Entretanto, o trabalho exigia que ele expusesse, em palavras e frases rebuscadas, o que pensava, o que sabia e o achava diante dos problemas que cotidianamente se apresentavam. Precisou, para tantas demandas, criar subterfúgios que foram, pouco a pouco, substituindo “o preferiria não dizer” de Bartleby. Passou então a escrever pequenos recados, para comunicações comezinhas, textos médios para expressar opiniões e textos mais ou menos longos quando a intenção era a exposição de temas complexos.
Esse expediente, imperfeito, o livrou de uma demissão e completa exclusão social, muito embora, todos notassem e comentassem a respeito dos inconvenientes dali advindos. Para ele, contudo, o tempo gasto escrevendo esses textos preenchia os dias com atividades laboriosas, de maneira que se via entretido e satisfeito. Passou a ser tolerado em suas excentricidades e mesmo sua família o aceitava, apesar de sua ausência, quase completa.
Depois de tanto tempo assim, já o achavam louco e mesmo ele tinha lá suas desconfianças e desavenças consigo mesmo. Não é possível que abster-se de falar seja uma quimera patológica que habita a mente do homem soturno. Escrever pode ser melhor que sonhar.