O transatlântico chamado Brasil

OPINIÃO - Walter Roque Gonçalves

Data 27/07/2025
Horário 04:30

O anúncio do tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos, com início marcado para 1º de agosto, é um problema com “P” maiúsculo. Trata-se de um verdadeiro iceberg no caminho do transatlântico chamado Brasil, que segue navegando, apesar das tormentas, tentando manter o rumo no comércio internacional.
Os setores atingidos são estratégicos para nossa balança comercial. Estão na mira: suco de laranja, café, minérios, mel, proteínas de peixe, frango, carne bovina, alumínio, aviação e até os calçados — cada um deles com cadeias produtivas que sustentam milhares de empregos diretos e indiretos. Não se trata apenas de estatísticas frias ou variações na exportação, mas de vidas, empresas e cidades inteiras que dependem desse fluxo comercial.
É certo que o Brasil procurará outros mercados. No entanto, não há tempo hábil para redirecionar contratos, logísticas e exigências alfandegárias de forma imediata e segura. Isso não se faz da noite para o dia. Assim como o Titanic não teve tempo de manobrar ao receber o alerta do iceberg, também o Brasil não terá tempo suficiente para evitar um impacto direto em sua economia exportadora. A diferença é que nós já ouvimos o sino tocar — o alerta foi dado. Agora, o desafio é sobreviver.
Especialistas apontam um risco preocupante: o excesso de produtos que não serão exportados poderá ser despejado no mercado interno. Isso pode, num primeiro momento, baixar os preços e até parecer positivo para o consumidor. Mas a conta chega logo depois. Com margens de lucro esmagadas, veremos demissões, falências e retração nos investimentos. A consequência será mais impressão de dinheiro, aumento da dívida, juros, redução do crédito e... inflação.
Mas em meio à crise também surgem oportunidades. É hora de estar atento aos países que passarão a ter sobra de produtos e àqueles que sofrerão com a escassez. O consumo global não vai parar — ele apenas mudará de rota, de perfil e de comportamento. Quem conseguir se adaptar rapidamente poderá ocupar espaços e construir novas parcerias. O segredo está em se posicionar com inteligência, visão e agilidade.
Este transatlântico chamado Brasil ainda tem muito a navegar. Mas precisa de líderes atentos, empresários preparados e políticas que fortaleçam nossa competitividade. Já vimos o iceberg. Não podemos fingir que ele não está lá. Fiquemos atentos. Façamos nossa parte. Venceremos mais essa.
 

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