Olho do dono

OPINIÃO - Walter Roque Gonçalves

Data 20/04/2025
Horário 04:30

O ditado “é o olho do dono que engorda os bois” nunca foi tão verdadeiro — e tão ignorado. Em um cenário empresarial cada vez mais acelerado, muitos empresários se enganam acreditando que processos, tecnologia e contratações substituem a presença ativa do dono. Não substituem. O zelo, o interesse, a atenção aos detalhes, o pulso firme e a disposição para resolver problemas que os outros sequer percebem fazem toda a diferença, tanto na pequena empresa quanto na gigante com centenas de filiais.
No início, é mais fácil: o dono está lá, todo dia. Corrige, motiva, resolve. O problema começa quando a empresa cresce, e com ela crescem também as demandas, a equipe, a complexidade. Novos funcionários são contratados para manter a qualidade e a operação, mas dificilmente alguém terá a visão e a dor do dono. Mesmo os mais comprometidos não conseguem replicar o olhar de quem investiu tudo no negócio.
A questão é: como manter o “olho do dono” presente quando ele não pode estar fisicamente em todos os lugares? A resposta está na cultura. É preciso colocar esse olhar no ambiente, nos processos, nos feedbacks. Câmeras ajudam, indicadores são essenciais. Mas nada funciona sem um ambiente em que as pessoas saibam o que é esperado delas. E que, quando fizerem bem feito, sejam reconhecidas. Para cada crítica, oito elogios fundamentados. 
Com o tempo, alguns funcionários vão se destacar, adotar a visão de dono e se tornar líderes. Mas não se iluda: ainda assim, precisarão de direção, apoio e supervisão constante. O dono não sai de cena. Apenas muda de lugar.
Luciano Hang, dono da Havan, é um exemplo disso. Com 175 lojas espalhadas pelo Brasil, é impossível estar em todas. Mas ele está presente: com cultura forte, comunicação direta e olho nos números. O olho do dono não se aposenta. Ele se reinventa.
Se você é empresário e acredita que crescer é sinônimo de se afastar da operação, cuidado. Crescer exige estrutura, mas exige ainda mais liderança. E não há liderança real sem proximidade. É preciso estar onde as coisas acontecem, ainda que por outros meios. Monitoramento sistêmico, treinamentos, ouvidoria para funcionários, feedbacks precisos, tudo colabora para tais resultados. O dono precisa ser visto, ouvido e percebido. Precisa inspirar. E, principalmente, precisa cobrar — com critério, com propósito e com exemplo.
Empresas que crescem sem dono viram um monte de gente tentando adivinhar o que é importante. Isso pode custar caro para empresa. Custa clientes, reputação e lucro. Portanto, esteja presente, mesmo quando ausente.
 

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