Onça Triste

Sandro Villar

O Espadachim, um cronista que até entende quem troca o útil e o agradável pelo inútil e desagradável

CRÔNICA - Sandro Villar

Data 18/09/2020
Horário 05:34

A tragédia do Pantanal assusta o mundo e, convém lembrar, os incêndios criminosos já destruíram quase 3 milhões de hectares no bioma, segundo o Inpe. Outra coisa: insinuar que índios tacaram fogo é de uma estupidez inominável. É a cavalgada da insensatez neste país cada vez mais maluco.
Quantos animais morreram? Acho que nem os bombeiros sabem ainda. Nem o gado escapou em algumas fazendas. Também nem onça escapou e se a onça, um felino forte e veloz, está na lista, é porque o fogo é mesmo de grandes proporções. Aliás, fotos e vídeos comprovam a gravidade da situação.
Uma onça-pintada, de cara triste - e bota tristeza nisso -, teve as quatro patas queimadas. É como se diz: ficou em carne viva. A onça foi socorrida. Voluntários enfaixaram as patas do felino, o terceiro maior do mundo e o maior das Américas (só perde em tamanho para o leão e o tigre). Também vale lembrar que no Brasil e, de tabela nas Américas, vive a onça-parda, o quarto maior felino do mundo e o segundo do "nosso" continente.
Deu pena ver a onça, um animal lindo e majestoso, com toda aquela tristeza estampada na cara. De acordo com as estimativas, o Pantanal tem, hoje, cerca de 20 mil onças-pintadas. Até certo ponto é um contingente expressivo, mas convém lembrar que esse felino corre o risco de extinção.
Claro que também é triste ver outros animais queimados ou mortos, entre eles macacos, cobras e jacarés. Por falar em macaco, um deles, que seria da espécie macaco-prego, emitia um som que parecia um choro de cortar o coração. O macaquinho parecia dizer algo do tipo "parem com essa loucura".
Claro que não vão parar e, pelo andar da carruagem, a turma do fogo e da motosserra só vai interromper sua atividade criminosa quando derrubar a última árvore. Aí será tarde demais e vai todo mundo pro beleléu ou pra caixa prego.
Certamente os mais velhos e anciãos, como o ilustre aqui, já ouviram falar do tempo do onça, expressão alusiva às épocas passadas. Pois é: no tempo do onça as onças não corriam risco de extinção como agora, época de incertezas e de insensatez galopante.

DROPS

Flordelis não é flor-de-lis que se cheire.

A situação está mais para carcará do que para beija-flor. 

Perguntinha: quem ama demais também sofre demais?

No Pantanal, nem todos estão na mesma chalana.    
 

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