Os destinos do traumático na contemporaneidade

O processo de crescimento é inerente, desde que somos concebidos. Mudanças e transformações ocorrem ininterruptamente. Aspectos anatômicos, fisiológicos, biológicos, psíquicos, neurológicos, enfim, qualitativamente e quantitativo são permanentes e constantes. 
Somos mamíferos e absolutamente dependentes do outro na tenra infância. Uma mãe suficientemente boa seria o ideal para a manutenção de todas as mudanças e necessidades que são naturais a partir do nascimento. Na ausência da mãe biológica, o ideal é que tenham substitutos que possam acolher, receber, dar continência. Em seguida, a caminho da dependência relativa, há inevitavelmente, a entrada de muito outros. 
Nós, psicanalistas, observamos durante os nossos atendimentos, que há também, os traumas considerados primitivos. Há famílias que chegam, trazendo os seus filhos, sedentos por soluções imediatas e a cura. A presença de traumas primitivos são experiências que ocorrem nos estágios mais iniciais da vida (desde a gestação, nascimento, até os primeiros anos da infância), são traumas que ficam registrados de forma não verbal no inconsciente e no corpo, ocorrendo um ruído psíquico, que transborda, impactando as formas como o ser humano relaciona-se consigo próprio, com o outro e com o mundo. 
Traumas primitivos podem ocasionar dificuldades com os vínculos e intimidade, ansiedade, medo profundo, sensação de vazio, desamparo ou abandono e agonias. Evidências de estabelecimento de relações disfuncionais que poderão constituir-se em padrões tóxicos, desequilíbrios, podendo comprometer aspectos emocionais, psicológicos e físicos. Nosso ofício de psicanalistas baseia-se em uma escuta afinada e atenta aos ruídos, barulhos e movimentos. E visão binocular, e muitas vezes, até a cegueira é providencial, para que a intuição nos guie. 
Vamos dando nosso “colo” possibilitando espaço para juntos sonharmos os traumas. O ideal é que haja a passagem da submissão em direção à autonomia. Os traumas primitivos poderão manter pessoas prisioneiras em núcleos psíquicos ou compartimentos, constituindo defesas ou “paredes grossas” para defender-se, fixados em fases precoces, impedindo a transformação. E as relações são prejudicadas, por fusão e identificações adesivas. Prejudicando o autoconhecimento, ser si mesmo, a diferença entre eu - não eu. 
“Traumas vivenciados em períodos muito precoces (antes da palavra) resultarão em um déficit na capacidade de simbolizar e representar, pois a criança fica exposta ao desamparo por não contar com um objeto que a auxilie a introjetar em seu Eu suas vivências” (Rene Roussillon).  

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