Os zumbis das redes sociais

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 01/07/2025
Horário 06:00

No princípio é só um post. Um texto, uma foto, um vídeo e um desejo: compartilhar um momento, uma vida, uma paixão, uma habilidade. Mas então chegam os comentários e de repente o mundo desaba. 
As redes sociais nasceram como um espaço de relacionamento humano. Na verdade, quando os primeiros gênios digitais pensaram em adaptar a ideia de rede social para o universo on-line, o objetivo era muito nobre: unir pessoas que tinham interesses em comum e potencializar a evolução da raça humana. E funcionou assim? 
Bem, do ponto de vista da audiência, sim, porque não há espaço igual tão frequentado por todos nós neste universo todinho. Ficamos lá talvez mais do que gostaríamos ou precisamos e neste sentido elas são imbatíveis e cumpriram seu propósito inicial. 
Também não dá para dizer que as redes sociais falharam no que diz respeito a conhecermos melhor outras pessoas e outros mundos e nem a obter conhecimentos. Com elas tivemos muito mais acesso e isso ampliou consideravelmente a forma como encaramos o mundo. Se antes, minha percepção era reduzida tanto geograficamente quanto humanamente falando, agora não há limites. O limite, na verdade, é a minha capacidade e paciência em conhecer possibilidades. 
Mas há um ponto nas redes sociais que macula diariamente a promessa original: estes ambientes podem ser tão nocivos quanto úteis. Aliás, não raro, transformam-se em ringues, em arenas onde a ignorância humana ultrapassa a força dos algoritmos e joga por terra qualquer boa intenção de relacionamento. 
O filosofo italiano, Umberto Eco, pouco antes de nos deixar em 2016, disse em uma entrevista que a internet era incrível, tinha um potencial sensacional para mudar o mundo de todos nós, mas cobraria um preço caro por dar espaço a uma “legião de imbecis”, que antes estavam trancados em suas casas, mas que agora se manifestam em manadas cada vez mais ferozes e maldosas.
Estas pessoas conseguem piorar ainda mais a questão ao adicionar à maldade de suas ações em rede, o tom da covardia. Na maior parte das vezes, o “idiota da aldeia”, como escreveu, Umberto Eco, se esconde em meio à multidão e falseia sua identidade para assim destilar ódio, preconceitos e discriminações, julgar e condenar. O anonimato e a distância tornam o ofício do ódio mais fácil, sem consequências aparentes. As consequências, na verdade, recaem sobre as vítimas, que por vezes não possuem estrutura mental suficiente para encarar um universo tão grande de maldades. Talvez por isso que a internet seja ao mesmo tempo um grande espaço de ideias, de conhecimentos e novidades, mas também um grande cemitério de boas intenções. 
Nas redes sociais, há muito túmulos de pessoas que sequer tiveram uma segunda chance, uma oportunidade justa de conviver em sociedade, de mostrar o seu valor. Por entre eles, circulam zumbis devoradores de reputações, que se alimentam de likes e views e estão prontos para fazer o próximo, e destrutivo, comentário.     

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