Pacientes do ambulatório mental de PP revelam dom e fé em pinturas

37 obras estão expostas no Museu e Arquivo Histórico Prefeito Antônio Sandoval Netto, com visitação gratuita, aberta ao público até dia 31

VARIEDADES - SANDRA PRATA

Data 30/08/2018
Horário 04:00

“Sombras e Luzes da Mente” é o título da exposição de autoria dos pacientes do Ambulatório Regional de Saúde Mental de Presidente Prudente (SP) que está no Museu e Arquivo Histórico Prefeito Antônio Sandoval Netto até sexta-feira. As obras, 37 no total, que retratam cenas do cotidiano e reflexos de crenças pessoais como fé e religião, também estão à venda em uma média de valores que varia entre R$ 40 a R$ 200. O lucro será convertido para investimentos de materiais da oficina de pintura que é ministrada as terças-feiras pelo professor Pedro Ângelo Jerez Ortiz, na instituição.

Segundo a diretora do museu, Valentina Terescova Romeiro Flores, a ideia da exposição partiu do próprio museu que viu na arte desenvolvida pelo ambulatório uma chance de aproximar os pacientes da sociedade prudentina. “A ideia é valorizar o trabalho dessas pessoas e mostrar para a sociedade que eles existem e que produzem trabalhos muito legais”, pontua.

“As telas estão muito bonitas e trazem um aglomerado de cores que retratam muito bem cenas do nosso cotidiano. Além de tudo, com a exposição esperamos fazer um resgate da autoestima desses pacientes, mostrar que as coisas que produzem têm valor para a sociedade”, ressalta a diretora.

Conforme Pedro, a escolha do nome da exposição partiu dos próprios alunos. A finalidade é retratar que assim como a pintura, que depende de sombras e luzes para existir, a mente tem seu lado obscuro e iluminado, claro. “Problemas como depressão representam o lado obscuro da mente, a pintura traz clareza, leveza para quem pinta, a ideia é juntar esses dois pensamentos em um local só, a exposição”, acentua.

Entre os benefícios que toda essa prática traz para os pacientes, Pedro relata o aumento da sensação de capacidade e inserção social. Além disso, conforme o professor, a pintura auxilia em habilidades como coordenação motora. “Produzir uma obra de arte faz com que se sintam capazes de fazer coisas, se sentem úteis, percebem que podem produzir coisas boas”, enfatiza.

Já no âmbito social, as contribuições são em relação à criação de uma corrente do bem. Conforme Pedro, se uma pessoa tira seu tempo para prestigiar e até mesmo comprar uma tela, pode ter a ciência de que está contribuindo para que uma instituição como o ambulatório continue motivada nos serviços que realiza. “Eu contribuo com o voluntariado, outra pessoa contribui prestigiando ou adquirindo os trabalhos que eles fazem, aos poucos, vamos criando uma rede de ajuda, implantando a solidariedade e o bem”, pontua.

Colorindo as telas

Pedro Ângelo Jerez Ortiz tem 57 anos e há cinco trabalha como voluntário nas oficinas de pintura no ambulatório. Todas as terças-feiras às 9h se reúne com seis alunos, de 30 a 60 anos, que possuem uma vontade em comum: passar para a tela coisas da rotina. “Não me custa nada tirar duas horas da minha semana para contribuir com algo tão especial e importante na vida dessas pessoas”, expõe.

Segundo Pedro, cada aluno produz uma tela por mês e nada é mais gratificante nas oficinas do que a expressão de satisfação no rosto de cada paciente. “Eles ficam muito felizes quando percebem que concluíram alguma tela. É algo que parece pouco para outras pessoas, mas para eles significa muito”, explana.

O envolvimento com as telas é tamanho que, conforme o professor faz com que mergulhem nas imagens e no trabalho com as cores. Pedro explica que até esquecem os problemas do mundo real. De acordo com ele, quando estão pintando, os pacientes não se queixam nem se preocupam com algo que seja além de escolher as cores certas para dar vida as telas.

Contribuição mútua

Pedro comenta que seus planos iniciais, lá atrás, era passar seus conhecimentos com a arte da pintura. Entretanto, com o passar do tempo percebeu que mais absorveu aprendizados do que de fato compartilhou. “São coisas, convívio diário, que contribui para a sua evolução enquanto ser humano, trago muitas coisas para minha própria vida que aprendi tendo este contato com eles”, frisa.

Dentre estes aprendizados, Pedro destaca a maior valorização da vida e o desprendimento com bens materiais. Segundo ele, ver pessoas que são felizes com muito menos do que outras é suficiente para se dar conta de que felicidade não tem nada ver com dinheiro. “Todo mundo deveria fazer trabalho voluntário, dá outra visão do nosso mundo, mais humano. As aulas fazem com que você crie um laço com esses pacientes e você absorve muita coisa”, ressalta.

 

“Eu contribuo com o voluntariado, outra pessoa contribui prestigiando ou adquirindo os trabalhos que eles fazem, aos poucos, vamos criando uma rede de ajuda, implantando a solidariedade e o bem”

Pedro Ângelo Jerez Ortiz

professor voluntário de pintura

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