Paixão e ódio na política: o risco do cidadão acrítico

OPINIÃO - Marcelo Creste

Data 11/09/2025
Horário 04:30

A política, em sua essência, deveria ser o espaço do debate racional, da busca por soluções coletivas e do exercício da cidadania responsável. No entanto, quando o cidadão passa a atuar movido por ódio e paixão desmedida, transformando um líder em objeto de veneração e outro em inimigo absoluto, o que se instala é um cenário de cegueira coletiva.
A história ensina que sociedades polarizadas ao extremo, onde parte da população idolatra um governante e outra parcela o demoniza sem nuances, tornam-se férteis para o autoritarismo. Nesse ambiente, o debate é substituído pelo grito, a crítica pela desconfiança e o adversário político é tratado como inimigo a ser eliminado, e não como alguém a ser confrontado democraticamente.
Esse tipo de postura cidadã — acrítica e passional — gera dois efeitos graves. O primeiro é a blindagem do líder idolatrado, que passa a ser visto como infalível, mesmo diante de erros e abusos evidentes. O segundo é a demonização do adversário, que deixa de ser um concorrente legítimo no campo das ideias e passa a ser tratado como ameaça existencial. O resultado é um ambiente político inflamado, onde a razão cede espaço à emoção, e o espaço público se deteriora.
Democracias sólidas dependem de cidadãos críticos, que fiscalizam, cobram, questionam e mantêm distância saudável de lideranças políticas. O governante deve ser tratado como servidor público, não como salvador ou inimigo mortal. Quando a política se reduz a paixão e ódio, o destino comum não é a construção do bem-estar coletivo, mas o aprofundamento de crises e divisões.
Em resumo: o cidadão que atua movido por ódio ou veneração cega deixa de ser agente de fortalecimento democrático e se transforma em instrumento de fragilização da própria democracia. E quando a crítica desaparece, o autoritarismo encontra terreno fértil para crescer.

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