Panegírico

OPINIÃO - Sandro Rogério dos Santos

Data 05/02/2018
Horário 12:29

Este não é um texto de história, mas de histórias. Recordação de um padre relativamente novo, atentando ao que viu e ouviu, sem negar o que sente. “Vamos fazer o elogio dos homens famosos, nossos antepassados através das gerações” (Eclo 44,1). Quando chegou a Presidente Prudente para ser o 3º bispo diocesano, a 2 de abril de 1976, eu já existia, não-nascido —nasci dois dias depois—. Dom Antônio Agostinho Marochi vinha do clero da capital paranaense e de bispo-auxiliar de Londrina. Lembro-me de tê-lo ouvido falar que aqui chegando sentiu vontade de chorar pela ‘vastidão’ do espaço e da escassez de padres e de recursos humanos e financeiros. Com seu trabalho, anos depois, já não havia mais tal escassez.

Quiçá, nesse ponto, faça sentido a afirmação de dom Benedito Gonçalves dos Santos, nosso bispo diocesano, na missa exequial: “dom Agostinho deu o tempero à diocese”. Vindo para servir, Dom Agostinho —como era conhecido e chamado— trazia a sua missão inscrita no lema episcopal: “Evangelizare Divitias Christi” (“Proclamar as riquezas de Cristo” – Efésios 3,8). Intrépido soldado de Cristo, homem forte, decidido, presente, por vezes duro, mas generoso e disposto a ser tudo para a porção do povo de Deus que a Igreja lhe confiara. Firme com os padres e afável com o povo, especialmente, o mais simples. Dele compartilho algumas memórias.

Costuma trazer alguns trocados no bolso para distribui-los aos pobres; e pirulitos para as crianças. Nas férias do seminário, era costume visita-lo na cúria diocesana. Ele contava histórias da igreja, da família... eu gostava de ouvi-las. Acompanhei-o como seminarista em visitas pastorais e celebração do sacramento da crisma. Vidros fechados, apenas o quebra-vento aberto a amenizar o calor; ar condicionado não tinha; os carros eram bem modestos. Rezávamos o terço, não costumava fofocar nem antecipar fatos —‘meu filho, isso nem o Espírito Santo sabe’, respondia quando lhe perguntavam sobre determinado assunto—. Era uma boa ocasião para um futuro padre conviver com o bispo e beber de sua experiência. Por ele fui crismado e acolhido no seminário diocesano.

Teve também o imbróglio do processo de tombamento da igreja catedral. Contrário à ideia, pois, para ele, o Estado tomba o imóvel, mas não dispõe de recursos financeiros para manutenção. Caso tombassem a catedral como patrimônio histórico —dizia— deixariam a igreja tombar, isto é, cair, por falta de cuidados. À época, este jornal publicou uma charge na qual o bispo paramentado —túnica, estola, mitra, cruz peitoral— trazia um saquinho de pipoca na mão e as pombas da praça com uma plaquinha no pescoço escrito “greve”. O prédio não foi tombado e pelo jubileu do ano 2000 foi feita ampla reforma na igreja cujas pinturas ele gostava particularmente.

Mesmo seus detratores reconhecem Agostinho como um homem simples. Recolhido numa humilde casa para viver o seu tempo de bispo-emérito —“não aposentado”—, viveu um calvário de dores, especialmente nos últimos tempos. Fez sua páscoa no domingo passado, às 10h. Acreditando na ressurreição, a igreja se reuniu para a despedida do nonagenário pastor. A cidade que usufruiu da sua carne (vigor e esforços) agora guarda e reverencia os seus restos mortais, descansando perpetuamente na cripta da Catedral São Sebastião.

Nossa Diocese agradece pela vida de Dom Agostinho e pelas pessoas –dom Benedito, Mons. José Antônio, enfermeiros, cuidadores...– presentes e atentas no cuidado com o seu pastor emérito. Deus recompense a todos por tanta benfeitoria. Que a riqueza do coração de Cristo continue sendo proclamada entre nós, sobretudo, na pastoral vocacional, nos ministérios pastorais e na devoção mariana, incentivados por ele.

Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!

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