Pau de Sebo

Sandro Villar

O Espadachim, um cronista de esquerda quando entra à esquerda e de direita quando entra à direita

CRÔNICA - Sandro Villar

Data 22/10/2023
Horário 05:30

Bem que a namorada alertou o Brandão para ele não atravessar descalço o braseiro da fogueira de São João, pois poderia entrar numa fria, quer dizer, entrar numa quente. E bota quente nisso. Pois foi o que aconteceu: pisou em brasas vivas, com jeitão de lava de vulcão, e foi parar no setor de queimados do hospital com os pés parecendo pata de elefante tal era o inchaço ou edema, como diz o jargão dos médicos. 
Vai ver o Brandão, mais teimoso que certos técnicos de futebol, é um homem de pouca fé, o que pode explicar as queimaduras na sola dos pés. Se tivesse dado ouvidos à namorada, a sempre zelosa Margarida, ele não teria ficado um tempão sem andar e, de quebra, sem namorar.
Brandão, nada brando, queria impressionar a Margarida e, sem qualquer preparo, teve a ideia de jerico de caminhar sobre brasas. Não se informou sobre o assunto e não consultou nenhum especialista e, por falar nisso, dizem que os ciganos da Bulgária são craques na arte de caminhar sobre brasas. Eles sabem o segredo.
O pessoal de Bocaina (SP) também manja um bocado dessa arte com mais de 120 anos de tradição, trazida ao Brasil pelos portugueses. Católicos de Bocaina têm fé e, pelo jeito, fazem a travessia numa boa. Não se tem notícia de que algum morador foi parar no hospital depois de andar sobre brasas, o que é uma brasa, mora!
Surgiu o boato de que o Brandão não cruzou o braseiro de cara limpa. Um rival, inconformado por ter recebido o cartão vermelho da Margarida (ela o trocou por Brandão), contou pra meio mundo que o Brandão, para criar coragem, encheu a cara no bar do Gervásio e também não dispensou o quentão.
Tomou todas e mais aquela que matou o guarda e toda a corporação, o que talvez explique a falta de policiamento na cidade. Calibrado, fez a besteira e se deu mal como também se deu mal numa festa de São Pedro.
Desta vez, o Brandão cismou de subir num pau de sebo a fim de abiscoitar (que palavra bonita,sô!) o prêmio que estava à disposição do vencedor no cume do mastro. Era uma nota de R$ 100, o que não deixa de ser um  dinheirinho razoável em tempos de vacas magras, como, aliás, são os tempos atuais em que carcará voa na vertical.
Cenzinho à espera do vencedor. Quem se habilita? Pois o Brandão, para desespero da Margarida, se habilitou, mesmo não sendo alpinista ou o Homem-Aranha. Ele tomou a providência de sempre, ou seja, tomou uns quentões a mais, além de outras águas que curió não bebe, enfim, encheu a caveira e lá foi para a aventura. 
Como alcançar o topo de um pau de sebo com quase dez metros de altura, mais alto do que jogador de basquete? Ansioso para pegar o dinheiro, pois tinha uma dívida de jogo, o Brandão começou a subir.
Até que não decepcionou no início, mas depois entrou bem. Não estava nem na metade da escalada e aconteceu o que todo mundo previa. As "garras" no pau de sebo não grudaram direito e Brandão despencou lá de cima. Se esborrachou no chão e não teria se esborrachado se fosse o Homem-Borracha.
Por pouco não caiu dentro da fogueira, que era bem alta e parecia uma fornalha. Com algumas fraturas, o Brandão foi socorrido por uma equipe do Samu chamada por Margarida. Ele não abiscoitou o prêmio, mas no hospital ganhou um biscoito da enfermeira.

DROPS

A mulher ideal é sempre a dos outros.
(Stanislaw Ponte Preta)

Oriente Médio, agonia da humanidade.

No tempo do onça as onças não corriam risco de extinção.

Passarinho que come pedra sabe o estômago que tem.
 

Publicidade

Veja também