Ocorrência de estupro não escolhe horário, idade ou classe social. E é fato que as mulheres são as mais vulneráveis a esse tipo de barbárie. Diariamente, as páginas de jornais e outros meios de comunicação divulgam diversos relatos de vítimas dos estupradores, situação que não é muito bem avaliada por parcela da sociedade que, mesmo diante da gravidade do crime, ainda tenta, de todas as formas, julgar a mulher como a culpada pelo ato. Essa é uma questão preocupante e que merece ser repensada.
“Ah, mas olha a roupa que ela estava usando; quem mandou sair de casa sozinha?; não tem marido?; lugar de mulher é dentro de casa”, são alguns dos julgamentos manifestados, não somente nas redes sociais, mas em comentários pessoais. Por incrível que pareça, tais afirmações também surgem quando o fato envolve até mesmo as crianças, mesmo que nas entrelinhas dos comentários que tentam passar despercebidos.
Julgamentos semelhantes foram observados pela reportagem na quinta-feira, quando noticiou o estupro de uma jovem de 21 anos. Ela foi levada às forças para dentro de um terreno baldio, na Vila Mathilde Vieira em Presidente Prudente. Não bastasse a gravidade do crime, ela também foi agredida e permanece internada, em observação. Toda a ação ocorreu durante a madrugada, quando ela percebeu que estava sendo perseguida por um homem vestindo trajes escuros. O local fica perto de uma universidade, a poucas quadras do Parque do Povo, onde o fluxo de pessoas é intenso.
Ousadia a do estuprador. Após a divulgação do crime, o julgamento, que deveria ter sido pela atitude doentia do rapaz, acabou caindo sobre a vítima. Muitos questionaram os motivos de uma moça estar caminhando às 2h (sozinha) em uma rua vazia, como se fosse a culpada pela ação. Em contrapartida, outros saíram em defesa e pediram leis que imponham penas mais graves a quem comete esse tipo de crime.
É certo que cada um tem a liberdade de opinar a respeito do que pensa, afinal, a liberdade de expressão é um direito de qualquer indivíduo. Mas é preocupante quando deixam a razão de lado e passam a defender estuprador. Não existe justificativa, estupro é estupro. Se for levar em consideração a opinião dos que pensam que a roupa da mulher influencia no crime, por exemplo, a sociedade estará sendo retrógrada. Como consequência, contribuirá para a privação de liberdade das vítimas e o receio em denunciar.
