Como parte da disciplina de pesquisa, no Curso de Serviço Social do Toledo Prudente Centro Universitário, 21 famílias que possuem um caso de TEA (Transtornos de Espectro Autistas) e que não possuem atendimento em Presidente Prudente foram analisadas, com o intuito de entender quais os motivos para que haja dificuldade no acesso a esse serviço. Pelo trabalho, foi possível detectar que 32 grupos familiares ainda estão na lista de espera desde 2014.
Em síntese, a professora Silvana Malaman Trevisan Dias Batista, que coordenou o projeto, explica que ficou entendida, especialmente, a importância da família no processo de socialização das pessoas com TEA, uma vez que são referências para o cuidado, proteção, defesa e luta pelos direitos. “A partir disso, a gente conseguiu mostrar o real objeto, que é buscar uma política pública que não esteja apenas no papel, mas que seja concretizada”.
Porém, enquanto isso não acontece, a falta de acesso ao serviço, por sua vez, ocorre, e houve a percepção, ainda de acordo com a coordenadora, que o principal entrave é a falta de informação sobre o autismo, aliado à busca pelo de direito de uma lei mais aplicada. “A pesquisa constata problemas na saúde e inclusão na educação pública, ao perceber que entidades da cidade, como a Lumen et Fides e a Apae [Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais], não conseguem suprir toda a demanda existente”, completa.
Já no que tange aos números, o levantamento apontou que 95% dos entrevistados que possuem o transtorno são meninos. Do contingente total, foi possível constatar que o diagnóstico, em sua maioria, ou melhor, 48%, ocorre logo na infância - entre 6 e 10 anos. Ademais, o TEA foi classificado, em meio ao contato com as famílias, em três graus, equivalente a 67% em nível leve, 14% no moderado e 9% no nível severo. Os outros 10% não souberam informar.
“A pesquisa constata problemas na saúde e inclusão na educação pública, ao perceber que entidades da cidade, como a Lumen et Fides e a Apae não conseguem suprir toda a demanda existente”
Silvana Malaman Trevisan Dias Batista,
coordenadora do projeto
Humanização
Para os alunos Marli Alves da Silva e Matheus Felipe da Silva, que participaram ativamente da pesquisa, o trabalho também possibilitou despertar ainda mais o lado humano, ao procurar entender as dificuldades que esse público em específico enfrenta. Além disso, ambos puderam constatar a vontade das famílias em falar sobre o assunto, mesmo que delicado, haja vista que pleiteiam a necessidade de serem ouvidas e, consequentemente, acolhidas.
Atendimento
Em Prudente, a Lumen et Fides desenvolve o trabalho com crianças e adolescentes que sofrem do transtorno. A entidade foi procurada para falar sobre a dificuldade em suprir a demanda existente no município. No entanto, foi informada que a pessoa responsável está de férias e ninguém poderia responder.
Já a Apae justifica que a falta de um repasse advindo de convênio firmado com a Secretaria Estadual de Educação impossibilita que outras crianças sejam atendidas e novas salas abertas, segundo a coordenadora pedagógica e de autismo, Andrea Aparecida Oliveira Oliver. “Hoje, entre a Educação e a Saúde, atendemos 25 pessoas”, pontua. Ela também lembra que a entidade não atende apenas casos com esse tipo de transtorno.
Por outro lado, a secretaria informa que os repasses com a entidade “estão em dia”, inclusive, nos últimos dois anos, foram direcionados aproximadamente R$ 1,2 milhão. Por meio de nota, a pasta não deixou de citar que “apenas neste ano, conforme previsto no termo de parceria assinado pela entidade com a pasta, foram enviadas três parcelas, sendo a última entregue em setembro para o atendimento de cerca de 180 alunos com deficiência intelectual”. Uma vez que o controle é feito pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado), o Estado alega que se realmente houvesse atraso, o órgão teria o acionado.