Poeta e professor, Freixo lança "111” hoje

Instabilidade, preocupação com o mundo, tensão, violência, autoridades sem controle, leis descumpridas são assuntos do livro do professor e poeta

VARIEDADES - OSLAINE SILVA

Data 26/11/2016
Horário 07:57
 

Após dez anos sem nenhuma publicação, o novo livro "111", do professor e poeta Carlos Francisco Freixo toca em assuntos sérios: na instabilidade, na preocupação com o mundo, na tensão, na violência, nas autoridades que parecem ter perdido o rumo e o controle de situações, nas leis que deveriam ser aplicadas, mas aqueles que deveriam fazer vale-las estão executando-as de qualquer maneira... Enfim, este é um breve resumo do que devoradores de bons textos poderão conferir nesta obra que será lançada às 19h30, desta noite, no Centro Cultural Matarazzo, em Presidente Prudente. O evento tem entrada gratuita.

Jornal O Imparcial Ironicamente o ‘enquadramento’ representa a liberdade do artista que é quando coloca adiante suas ideias

Conversando com este mestre e incentivador da escrita e leitura, que veio até O Imparcial fazer uma cordial visita, algumas perguntas inevitáveis a serem respondidas foram feitas: primeiro, em relação ao título do livro e ele disparou: "Ele surgiu a partir de uma situação no Rio de Janeiro, quando um garoto que iria começar a trabalhar resolveu comemorar junto com uns amigos comendo um lanche. Na volta, esses amigos foram parados por quatro policiais que, na sequência, dispararam 111 balas nos garotos. Foi aí que resolvi fazer 111 textos, desde alguns minúsculos até outros mais densos", explica Freixo.

De acordo com o escritor, embora tenha levado tanto tempo para lançar outro livro, desde o último "Cacófatos Histeóricos", ele não ficou parado. Ao contrário, se dedicou mais ao Sarau Solidário, que ocorre todo terceiro sábado do mês; ao Clipp (Concurso Literário de Presidente Prudente), entre outros compromissos a respeito.

"Tenho, inclusive, outros sete livros prontos. Mas, precisava partir deste. Inicialmente, era para ser apenas um livro, mas pode virar uma trilogia, porque não deixa de ser uma sequência do Cacófato, que abordou o mesmo assunto, mas de forma geral. Assunto, enquanto que o ‘111’ está mais voltado para a violência, a histeria generalizada, o sentimento de derrota de todo mundo. Quando na verdade temos um caminho a seguir, e o próximo, pode vir mais na questão de administração pública com possível título já definido: ‘2/5’", adianta.

 

Existe diferença em P&B?

As fotos que estão na segunda orelha do livro, traz Freixo e Leonardo Ferreira, o Leozinho do hip hop, da dança de rua, do grafite, artista e produtor cultural da Secult (Secretaria Municipal de Cultura), que é responsável pela arte da capa de "111".  Questionado sobre qual a importância desse artista em seu livro, ele diz que diante de todas as inquietudes que aparecem na obra, Leozinho é a pessoa mais indicada para representá-lo de alguma maneira.

"Se estamos falando dessa tensão, do clima de instabilidade, do medo de encararmos a rua, só o Leo poderia entrar nesse trabalho. Por tudo isso que vivemos, a intolerância, o preconceito doente de pessoas e ‘pessoas’ que abusam, inclusive da autoridade, que possuem. O Leo tem muitas histórias que se não fossem tristes, era para rir muito", frisa Freixo.

E conforme Freixo, Maurício D’S, fotógrafo do livro, conseguiu captar e reproduzir exatamente isso: "dois indivíduos enquadrados dentro de toda essa tensão que não é de agora, mas já vem de longa data. Elas revelam que, além de estarmos presos pelo e ao sistema, o artista está encarcerado em um questionamento incessante. Que é o que nos faz pulsar, criar. E o ‘enquadramento’ representa a nossa libertação, é quando colocamos adiante nossas ideias", destaca Freixo.

 

Um pouquinho


O professor destaca que "ao mesmo tempo que o livro é tenso sim , a pessoa tem que entender que as luzes do amanhecer brilham, os olhos abriram, que o sol nasceu e é preciso superar todo aquele dia que vem pela frente. Essa é a ideia".

"Mãos para o ar: vamos dançar" é um dos poemetos bem leves de "111". Tem outros mais extensos como "Alô Comunidade" que percorre 24h do dia que parece não ter fim. A tragédia de Santa Maria com uma linguagem figurada, até chegar ao Carandiru, onde o número 111 se instala na obra oficialmente.

"Em alguns momentos tem o eu lírico em outros neutros, faço muitas referências de autores importantes, como Nei Matogrosso em ‘Sinais dos Tempos’, que se mostra um ser inteiro em todos os seus trabalhos", coloca.

E completa mencionando que na verdade em seus poemetos faz com que o leitor remeta-os ora à música, ora à literatura onde ele cita entre um e outro Chico Buarque ("Uma menina"); Lulu Santos (versos esparsos); Edu Lobo ("Ponteio"); Itamar Assumpção ("Noite torta"); MC Marechal ("É a guerra neguinho"); Tom Zé "(Senhor cidadão"); Dorival Caimmy ("Suíte dos pecadores"); João Cabral de Melo Neto ("Morte e vida Severina"); Cecília Meireles ("Romanceiro da Inconfidência").

 

 

 "O QUE VEM DE FORA ME ATINGE"


poemeto 055

 

Como posso alheio ficar longe

Se nem tempo de surpresa temos.

Somente com bocas de espanto

Encaro, ação imoral legal

É o pessoal profissional

Fazendo caras de esfinges insensíveis

 

Diante de cinco sorrisos numa noite de festa

Da amizade concreta que surpreende pela alegria

 

A sua alegria não tem direito a defesa

 

Só a paciência da perícia para contar até cento e onze

 

Quanto se perde nesta lida

Quanta vida se perde neste chão

Há o abraço da miséria que pernoita

Proibindo o desassossego que se chama anoitecer

E vira o breviário daqueles que queriam ser felizes

E foram apenas aprendizes.

 

 

 
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