Deflagrada pela Polícia Civil, em conjunto com o MPE (Ministério Público Estadual), a Operação Cineris desmantelou uma sofisticada organização criminosa especializada em lavagem de capitais. Após um morador de Rosana ser vítima de um golpe virtual, investigações do 1º Distrito Policial de Rosana/Primavera e da Unidade de Inteligência Policial do Deinter-8 (Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior) identificaram os principais integrantes do grupo, responsáveis por toda a cadeia de movimentação financeira ilícita. Sendo assim, mais de cem policiais deram cumprimento nesta quarta-feira a sete mandados de prisão preventiva e 22 de busca e apreensão domiciliar nas cidades de São Paulo, São José dos Campos e Ibiúna.
“Além disso, a Justiça, após representação da Polícia Civil e concordância do MPE, determinou o bloqueio de valores na ordem de R$ 480 milhões, suspensão das atividades econômicas de quatro empresas utilizadas no ciclo da lavagem de capitais, proibição de contato entre os investigados, mesmo que por interpostas pessoas, além do sequestro de sete veículos automotores. A Polícia Federal também foi comunicada acerca da suspensão dos passaportes de todos os investigados, fruto da ação policial”, explica o Deinter-8, sobre o núcleo do grupo, formado por cidadãos de origem chinesa.
Tais indivíduos, conforme a Polícia Civil, criavam e movimentavam empresas destinadas exclusivamente ao branqueamento de vultosos valores ilícitos, chegando, inclusive, a contratar os serviços de uma empresa especializada na terceirização de operações de lavagem para conferir maior sofisticação e ocultação às transações.
“A Operação Cineris demonstra a capacidade da Polícia Civil em atuar de forma integrada e estratégica contra organizações criminosas, preservando a integridade do sistema financeiro e desarticulando esquemas que afetam diretamente a economia e a segurança pública”, destacam os delegados responsáveis pela investigação, Edmar Rogério Caparroz e Ramon Euclides Guarnieri Pedrão, que consideram que a operação representa um duro golpe contra o crime organizado, que vinha utilizando o território paulista como base para o escoamento de vultosos recursos ilícitos.
“Start” das investigações
Inicialmente, apuração demonstrou que parte dos valores branqueados pela organização criminosa eram oriundos da prática de golpes virtuais, tendo sido esse o fato que ensejou o “start” das investigações, quando um morador de Rosana foi vitimado. Segundo consta, os investigados aplicavam golpes em milhares de vítimas em todo o país por meio de um site, hospedado em Istambul na Turquia, onde eram simulados aportes de valores para falsos impulsionamentos de investimentos.
Após a captação ilícita, eram utilizados correntistas “laranjas” para abertura de contas em bancos digitais, possibilitando o recebimento dos valores oriundos dos golpes.
Uma vez abertas as contas, os chineses investigados assumiam o controle desses aplicativos e procediam ao repasse dos recursos para empresas criadas exclusivamente para a dissimulação, além de fintechs e gateways de pagamento, promovendo o retorno dos valores já lavados para os membros da organização criminosa.
As investigações revelaram ainda que a organização criminosa fez uso de uma fintech para terceirizar a lavagem de parte dos valores obtidos com as fraudes eletrônicas. Essa empresa, além de atuar diretamente para a organização sino-brasileira, também promovia o branqueamento de valores milionários para outros segmentos criminosos, funcionando como uma verdadeira “lavanderia do crime” ao disponibilizar sua estrutura financeira para dar aparência lícita a recursos oriundos de diferentes atividades ilícitas. O esquema envolvia, assim, o ciclo completo da lavagem de capitais, movimentando quase R$ 500 milhões em poucos meses.
A investigação apontou que os valores transacionados pelo grupo criminoso eram também advindos de outras facções, sem qualquer lastro legal. Diante da constatação desse altíssimo valor movimentado, a Polícia Civil e o MPE direcionaram as atividades investigativas para esse núcleo de lavagem, desmantelando todo o grupo criminoso e as empresas por ele usadas.
“Os trabalhos investigativos, que perduraram por três anos, apontam indícios de que o grupo também escoava dinheiro para fora do país, tendo sido constatado, em curto período de tempo, diversas viagens dos alvos da investigação para o continente asiático”, complementa o Deinter-8.