Recentemente, Presidente Prudente foi palco de um caso que serve como importante alerta à população e aos gestores de saúde: o diagnóstico de leishmaniose humana em um morador local, o jornalista Maycon Morano, 38 anos. Felizmente, ele está em processo de recuperação, mas enfrentou um caminho difícil até chegar ao diagnóstico correto. Inicialmente tratado como um caso de dengue — doença já bem conhecida e recorrente em nossa região —, ele só começou a melhorar após a intervenção do médico infectologista, André Pirajá, que, com dedicação e conhecimento técnico, conseguiu identificar a real causa do problema: a leishmaniose visceral, também conhecida como calazar.
O episódio escancara dois pontos cruciais: o perigo silencioso da leishmaniose e a urgência de diagnósticos precisos e precoces. A doença, embora menos divulgada do que outras endemias urbanas, é grave, pode evoluir rapidamente e, em muitos casos, levar à morte se não for tratada corretamente.
A leishmaniose humana é causada por um protozoário transmitido pela picada do mosquito-palha (Lutzomyia longipalpis). No ambiente urbano, esse vetor encontra condições ideais para se proliferar, especialmente em locais com acúmulo de matéria orgânica e presença de cães infectados, que atuam como reservatórios do parasita. A forma visceral da doença atinge órgãos como o fígado, baço e medula óssea, e os sintomas — febre persistente, perda de peso, anemia e fraqueza — podem ser confundidos com outras enfermidades tropicais, como a dengue e a febre tifoide.
Esse caso em Prudente ilustra bem esse risco: um diagnóstico equivocado pode custar caro. A atuação precisa de um especialista capacitado fez toda a diferença na recuperação do paciente. Infelizmente, nem sempre esse é o desfecho. Muitas vítimas da leishmaniose, em especial nas periferias ou em áreas rurais, não têm acesso facilitado a exames laboratoriais ou a especialistas, o que aumenta a taxa de subnotificação e de complicações graves.
A prevenção passa por diversas frentes: controle ambiental, uso de repelentes, instalação de telas em portas e janelas, controle populacional de cães de rua e educação em saúde. As autoridades públicas precisam intensificar ações de vigilância, mapeamento de áreas de risco e campanhas educativas. E nós, cidadãos, também temos um papel: manter nossos quintais limpos, denunciar focos do mosquito e levar nossos animais para acompanhamento veterinário regular.
A leishmaniose humana é uma realidade que já bate à nossa porta. A atenção precisa ser redobrada. Que o caso registrado em nossa cidade sirva como um ponto de virada: para valorizarmos a ciência, os profissionais comprometidos com a vida e, sobretudo, a saúde pública de qualidade, acessível e eficaz. Prudente precisa estar atenta. Porque quando se trata de doenças infecciosas, o tempo e o conhecimento salvam vidas.