Prevenção da violência sexual deve ter início em casa

EDITORIAL -

Data 19/08/2020
Horário 04:05

Nos últimos dias, o caso da menina de 10 anos que ficou grávida após um histórico de pelo menos quatro anos de abusos sexuais, no Espírito Santo, comoveu a população brasileira e revelou uma triste realidade: situações de violação infantil podem ocorrer por longos períodos no mais absoluto silêncio. Silêncio que se tornou ainda maior neste período de distanciamento social, uma vez que as crianças estão confinadas em casa e, consequentemente, mais expostas à violência física e sexual. 
Considerando que a maioria dos algozes são pessoas que compõem o próprio núcleo doméstico, muitas das situações permanecem veladas e passam despercebidas, sem que nunca cheguem ao conhecimento das autoridades. E, à medida que o sofrimento é prolongado, maiores são os traumas que acompanharão as vítimas pelo resto da vida.
Além de estarem mais suscetíveis a diferentes tipos de violação nesse período, as crianças também estão longe do monitoramento das escolas, que exercem uma importante função de responsabilidade social nesse sentido: é que boa parte dos casos de abusos são detectados pelos educadores, com quem, muitas vezes, os alunos sentem abertura para conversar e fazer confidências. Nessas circunstâncias, a própria escola aciona o Conselho Tutelar, que, por sua vez, inicia uma investigação junto aos responsáveis. Sem a parceria das instituições de ensino nesse contexto, as denúncias ocorrem em menor número, e os abusos transcorrem por mais tempo. Isso porque, estando em casa, muitos dos pequenos deixam de contar a alguém por temer represálias ou, então, ser desacreditadas.
Diante disso, é muito importante que o combate ao abuso sexual na infância já comece dentro de casa. O fortalecimento da família é essencial para que os pais e responsáveis conheçam e percebam suas crianças, dedicando tempo, atenção e carinho a elas, de modo que estas se sintam menos vulneráveis. É fundamental ainda que as famílias estabeleçam o diálogo com seus filhos, orientando-os a aprender sobre o próprio corpo e quem pode tocá-lo e de que forma tocá-lo. 
Além disso, é preciso firmar uma relação de confiança com as crianças, de forma que se sintam seguras para revelar qualquer coisa, inclusive uma situação de abuso, sem o risco de serem criticadas ou acusadas de estar faltando com a verdade. A partir de medidas como essa, pais e protetores podem contribuir para a redução dos casos e a construção de lares mais seguros para os pequenos.
 

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