Prof Pardal, invenção não é inovação

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 17/07/2022
Horário 04:30

A minha geração cresceu acompanhada pelo Prof Pardal e seu assistente Lampadinha, um pequeno andróide com uma lâmpada no lugar da cabeça. Eles foram criados pela equipe do Walt Disney na década de 1950 para povoar a famosa Patópolis de invenções que iriam transformar o mundo. Uma grande invenção do Prof Pardal era o seu “chapéu pensador”, um artefato em forma de telhado com chaminé, habitado por passarinhos, que o ajudava a ter ideias, como se as invenções brotassem da cabeça de cientistas malucos! 
Folheando os gibis daquela época, chego a me sentir ridiculamente pueril. O repertório técnico que cerca os meus netos de apenas 10 anos é completamente daquela época... Não é difícil para eles compreenderem as gigantescas transformações que estão em curso com a chamada “indústria 4.0”. Eles não se assustam com a disseminação de robôs colaborativos que podem trabalhar ao lado dos seres humanos sem causar acidentes. Ou com as chamadas impressoras 4D que imprimem materiais inteligentes que se transformam a partir das condições do ambiente, como umidade, temperatura ou corrente elétrica. 
Já imaginou o impacto que essas inovações vão gerar no mercado? Roupas que aumentam ou diminuem de tamanho, objetos compactos que atingem sua forma real quando desembalados! São inovações que fazem parte da chamada indústria 4.0, que amplia a robótica, faz uso de grande volume de dados (bigdata), inteligência artificial, conectividade e integração. É o aproveitamento de dados em tempo real, a internet das coisas e a computação em nuvem. 
Mas essas transformações não dependem apenas de aplicativos do mundo eletrônico. Pelo contrário, existem muitas inovações na forma de se relacionar com as pessoas ou de organizar o processo de trabalho, assim como compartilhamento e uso coletivo de novos procedimentos. É aí que universidade pode participar, propiciando ambientes de pesquisa e formação para o desenvolvimento de provas de novos conceitos, de exploração e de buscas por soluções, mas também de senso crítico acerca da apropriação dos conhecimentos acumulados nas experiências dos trabalhadores.
É o chamado “conhecimento tácito”, não expresso por palavras, que uma vez codificado e incorporado no processo de trabalho pode se transformar em novo caminho de inovação. Ou seja, uma inovação que depende muito mais do chão da fábrica do que do “chapéu pensador” do Prof Pardal. Que valoriza setores tradicionais da economia e não apenas dos high-tech. 
 

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