Em meio a rumores sobre um possível bloqueio do sinal de GPS para o Brasil, o professor João Francisco Galera Monico, pesquisador da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e especialista em Geodesia e GNSS (Sistema Global de Navegação por Satélite), esclarece que a hipótese é tecnicamente inviável. Em entrevista, ele explicou que o sistema de navegação americano opera em escala global, sem capacidade de restrição seletiva por nações.
Galera Monico destaca que a maioria dos receptores atuais já é multi-GNSS, ou seja, captam sinais de outras constelações, como o **Glonass (Rússia), o **Galileo (União Europeia) e o Beidou (China). "Se o sinal do GPS fosse degradado, outros sistemas manteriam o funcionamento, ainda que com possível perda de precisão", afirmou.
O especialista ressalta que o Galileo, em particular, é mais robusto que o GPS em alguns aspectos e está em operação plena, oferecendo uma alternativa viável.
Questionado sobre a autonomia do Brasil, o professor revela que há um grupo de estudos no MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) avaliando a viabilidade de um sistema de posicionamento nacional ou até sul-americano. No entanto, lembrou que o desenvolvimento do GPS consumiu cerca US$ 12 bilhões (pela inflação), o que torna o projeto complexo.
"Seria interessante o desenvolvimento de um sistema para toda a América do Sul, mas é um investimento muito elevado", pondera.
Como medida imediata, Galera Monico sugere que o Brasil incentive o uso de receptores multi-GNSS em setores críticos, como agricultura de precisão, mineração e veículos autônomos. "É preciso deixar de chamar tudo de 'GPS' e adotar o termo 'GNSS', que abrange todas as constelações", afirma.
O pesquisador também descarta a reintrodução do SA (Selective Availability) – mecanismo do passado que degradava a precisão do GPS para usuários não autorizados –, já que a tecnologia atual prioriza a acurácia global.
Enquanto a dependência do GPS persiste, a diversificação para outros sistemas e a conscientização sobre o GNSS aparecem como caminhos para garantir a resiliência do Brasil em navegação por satélite.