Qual professor marcou a sua vida?

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 14/06/2020
Horário 05:09

O exercício semanal de escrever uma crônica tem me colocado diante de questões aparentemente banais. Percebi que sequer havia me apresentado ao leitor do jornal e, assim, comecei a pensar sobre o que valeria a pena falar a respeito da minha vida de professor. Daí eu comecei a pensar nos meus próprios professores.  Devo muito da minha formação intelectual aos professores que tive nas escolas que estudei em São Paulo.    

Lembrei-me de uma manhã de sol, típica do início de maior de 1978. Dirigia-me à cantina quando encontrei pelo caminho o diretor da escola e, prontamente, o convidei para assistir à apresentação dos resultados de minha primeira pesquisa, sobre astronomia. Ele ficou contente com o convite e me apresentou a sorridente mulher que se encontrava ao seu lado. Tratava-se da nova orientadora pedagógica responsável pelo desenvolvimento dos projetos na escola. Seu nome? Ausonia Fevorito Donato.

Curiosamente, essa cena e esses personagens marcaram profundamente a minha vida. De lá para cá, tive a rara oportunidade de acompanhar a forma pela qual os projetos foram sendo incorporados ao cotidiano daquela escola. Vejo que nessa caminhada o professor de biologia, Maurício Mogilnik, também foi muito importante. Suas aulas eram um belo exercício de metodologia científica. “Antes de qualquer negócio, ache uma boa pergunta! Mais importante que as respostas é a capacidade de formular problemas.” Este passou a ser o nosso lema.                

Os projetos ganharam enorme impulso na escola e, por meio deles, organizamos muitos trabalhos de campo. Primeiro, nas ruas de São Paulo. Seguindo o curso do Rio Tietê, chegamos a Pirapora do Bom Jesus, Itu e Porto Feliz (em que medida o rio, de água, na realidade é o encontro do histórico e o geológico?). E como um dia todo rio desemboca no mar, a ele chegamos em outros projetos. Visitamos enseadas, mangues, portos, ilhas. Conversamos com moradores, favelados, pescadores, estivadores, operários, bóias-frias. Enfim, ao colocar a atitude científica e a criatividade como eixos centrais do ensino, esses queridos professores suscitaram em nós a inquietação pela formulação de problemas, não apenas assimilando um saber pronto e acabado.

Sei que vivemos tempos muito difíceis e de grandes incertezas. Como irão funcionar as escolas daqui para frente? De que forma conseguiremos superar a crise na qual nos encontramos? Não há dúvidas que teremos muitas dificuldades pela frente, mas eu ainda carrego comigo os ensinamentos desses professores, com quem aprendi a não temer o desconhecido. E você? Consegue se lembrar dos professores que marcaram a sua vida? Espero que possamos aproveitar dessas boas experiências para encontrarmos respostas aos enormes problemas que nós, brasileiros, teremos de enfrentar nos próximos anos.

 

 

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