QUANDO O RIO AMANHECIA CANTANDO

Charanga Domingueira

COLUNA - Charanga Domingueira

Data 29/01/2018
Horário 10:49

Não é só pelo preço dos livros que prefiro ler as edições impressas. Mesmo inserido nos dias que vivemos não sou de ler o que vem na maquininha à minha frente. Mesmo que custe menos. Gosto de virar página por página e muitas vezes ler pela segunda ou terceira vez o trecho que mais me encanta. Na verdade estou relendo e até trelendo velhas obras que não perdem jamais o sabor. Ainda agora relia o livro de memórias de Mário Lago, uma das grandes figuras de nosso mundo artístico como autor, ator e compositor consagrado. Principalmente boêmio que conheceu o Rio de Janeiro antes mesmo que este se transformasse na Cidade Maravilhosa. Mário Lago é simplesmente o autor de pérolas de nosso cancioneiro como Aurora (“Se você fosse sincera, oh, oh, oh, Auroraaa ...”), “Ai que saudades da Amélia”, “Atire a primeira pedra”, no tempo do verdadeiro carnaval carioca e de canções românticas como “Nada Além” ou “Dá-me tuas mãos”, sucessos de Orlando Silva e em todas elas com parceiros diversos principalmente Ataulfo Alves e Custódio Mesquita, já que nunca estava sozinho. Seu livro de memórias “Na rolança do tempo” é simplesmente um manjar divino para quem gosta de ler aqueles que sabem se expressar com inteligência e espírito. Foi lendo o livro do grande Mário Lago que comecei a pensar como as coisas mudaram. Ou, como no dizer de Machado de Assis serei eu quem mudou? Os entendidos dizem que é tudo fruto da globalização e a verdade é que faz muito tempo que não se produz obras realmente saborosas como as canções do Mário, os sambas de Noel ou os livros de Érico Veríssimo, Machado de Assis, Lima Barreto, Jorge Amado, ihhh a fila era imensa. Também em outros setores da atividade artística e aí está a questão da arte a provocar dissensões. Isso não acontece apenas no Brasil, não. Onde as canções que Frank Sinatra interpretava? Onde os sucessos franceses ou italianos? A música clássica continua existindo porque Bach, Chopin e Mozart existiram. Foi ai que caiu em minhas mãos o livro “Big Bands paulistas”, uma obra belíssima que conta a estória das orquestras de baile do interior de São Paulo e que me foi remetido por meu considerado José Ildefonso Martins, prudentino de Campinas e por seu parceiro José Pedro Soares Martins. Uma verdadeira joia e que terá lançamento quarta-feira, no Sesc da Vila Mariana, em São Paulo. Como vivi momentos de extrema alegria quando compareci ao lançamento do livro do Ducho sobre o centenário prudentino farei o possível para estar também nesse evento. Mas, desde já e depois de ler a história das bandas que alegraram também a minha juventude chego a conclusão de que nem tudo está perdido.

Publicidade

Veja também