Em épocas diferentes, dois brasileiros ilustres fizeram a pergunta hoje famosa de Norte a Sul e de Leste a Oeste do Brasil. O primeiro a formular a pergunta - clássica, óbvio! - foi Francelino Pereira: "Que país é este?", perguntou, indignado, o político nordestino, que foi ministro durante a Ditadura Militar, numa época em que carcará voava na vertical pelo Brasil.
O segundo brasileiro célebre a fazer a pergunta foi o cantor e compositor Renato Russo, líder da banda Legião Urbana. Aliás, Russo, num tempo em que a situação não estava tão "ruça", compôs uma canção chamada "Que país é este?", sucesso nacional como quase tudo que a banda produzia.
Lembro-me que ainda no tempo do Francelino, um humorista, em resposta ao ministro, saiu-se com esta: "Ninguém deveria perguntar em seu próprio país que país é este?". Bela sacada do humorista, cujo nome não me lembro mais.
Francelino Pereira e Renato Russo expuseram as mazelas sociais, a esculhambação e a avacalhação próprias desta nação. Até certo ponto pegaram "pesado", como também pegou "pesado" o saudoso empresário Antônio Ermírio de Moraes, um grande brasileiro.
"O Brasil é o país dos safados", disse Antônio Ermírio com todas as letras garrafais, indignado com a malandragem reinante. Aqui cabe explicar: ele não declarou que o Brasil é um país "de safados", mas sim "dos safados". Para bom entendedor, há uma diferença na frase. Antônio Ermírio não quis dizer que só tem safados nesta terra, que uma advogada curitibana chamou injustamente de "terra amaldiçoada". Vai pra Miami, santa!
No país onde impera a Lei de Gérson - lembram do famoso "leve vantagem você também?" -, sou compelido a concordar com Francelino, Renato Russo e Antônio Ermírio. O Brasil é, hoje, um país bizarro e por aqui há uma onda de ódio e de obscurantismo que tende a crescer ainda mais. Que se passa?
Ganância, hipocrisia, cinismo e desrespeito estão em todos os cantos. Ou não é ganância um supermercado cobrar quase R$ 20 por um pacote de cinco quilos de arroz? E o desrespeito aos idosos? Crueldade total. Quanto à hipocrisia, a chamada elite do atraso, como diz Jessé Souza, age assim e, às vezes, nem disfarça.
Com o beneplácito de setores com complexo de vira-lata, que acham que tudo que é público não presta e bom é o que vem dos EUA, a elite do atraso, chamada por Cláudio Lembo de elite branca, não economiza grana para eleger candidatos da pior espécie, sem preparo intelectual e, principalmente, sem compromisso com a população.
Tal elite também pressiona e consegue indicar seus representantes para cargos públicos importantes. Alguns representantes vão com muita sede ao pote e acabam caindo do cavalo, como aconteceu recentemente. A elite não se conforma com o tropeço. Aliás, quem tropeçou já vai tarde, principalmente aquele que destruiu a economia e deixou ao menos 6 milhões de desempregados, tudo pela obsessão de prender um homem.
É como diz o cineasta Costa-Gavras: "Não tenho interesse pelo poder. Tenho interesse pelos problemas causados pelo poder". Com a elite do atraso, os problemas sociais e políticos deste país parecem insolúveis, mas surgiu uma esperança: é a Bety Cuscuz, dona de cabarés no Piauí e no Ceará.
Ela publicou um vídeo travestida de presidenta, com faixa e tudo, e foi clara e incisiva em sua declaração: "Vou assumir o Brasil, pois de cabaré eu entendo". Arretada essa Cuscuz. Se for eleita, espero que o país não vire um Cuscuz em dobro, sem o S e o Z.
DROPS
Era um decorador tão eficiente que instalava até cortina de fumaça.
Filme da Semana no Cine Brasil: O Homem que Perdeu a Serventia, do famoso diretor Mito Messias.
Filme da Semana que vem no Cine Brasil: Na Corda Bamba, também do mesmo diretor e com o ator Tchutchuca no papel principal.
O Brasil é um avião sem asa ou é apenas impressão?