Que semana agitada!

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 12/11/2023
Horário 04:30

Fui à inauguração da exposição “Rubens Borba de Moraes: um protagonista invisível” que ficará aberta ao público no Centro Cultural Matarazzo até final de janeiro. É fascinante percorrer a vida desse ilustre bibliotecário que esteve nos bastidores da Semana de Arte Moderna e influenciou o pensamento de Mário de Andrade. Os fatos ali registrados aguçaram o meu incansável interesse pela grande obra de Mário de Andrade - “Macunaíma: o herói sem nenhum caráter”. Ainda que publicado em 1928, a busca do autor pelas origens e singularidades da cultura brasileira nunca esteve tão atual. Sem dúvidas, o pensamento macunaímico é um convite à navegação pelo imaginário coletivo de uma nação que não foi feita para amadores. 
No mundo primitivo macunaímico os problemas que aparecem são resolvidos com muita naturalidade. Durante toda a rapsódia não existem barreiras entre o estado mineral, vegetal e animal, podendo fundir-se em um único corpo. É muito divertido subir por uma teia de aranha até o céu e virar a lua! Ou mesmo acompanhar o caso de Ci que “resolveu” transformar-se numa estrela simplesmente porque estava desconsolada com a morte do filho. 
E quando Macunaíma chega a São Paulo, então? Ele encontra outra civilização bem diferente da que conhecia. De cara, estabelece comparações com os bichos que tinha visto com os novos da cidade: “...que despropósito de papões roncando, mauaris, juruparis, sacis e boitatás nos atalhos, nas sacovas, nas cordas dos morros furados por grotões donde gentama saía muito branca”! Aos poucos, Macunaíma vai percebendo que não era nada daquilo e cada vez mais vai ficando confuso: “... As cunhãs rindo tinham ensinado para ele que o sagui-açú não era sagui não, eram campainhas, apitos, buzinas e tudo era máquina... Eram máquinas e tudo na cidade era só máquina”. Macunaíma não consegue entender o que era a máquina. E para ficar Deus dos homens brancos, tenta trepar com a máquina como tinha feito com Ci e mandar em todo mundo. Mas a máquina é deveras egoísta e não quer saber de concorrente coisa nenhuma. Daí trava-se uma batalha entre Macunaíma e a máquina civilizada, e o nosso herói acaba levando vantagem porque para ele era tudo mais fácil. 
Ao lado do meu exemplar de Macunaíma encontro outro livro que sempre esteve comigo: “As veias abertas da América Latina”, de Eduardo Galeano. O livro analisa a América Latina desde a sua origem, tornando-se referência para a compreensão das mazelas do continente. Isso me dá saudades do Jorge, da Luisa. Encontrei nossos amigos argentinos, cubanos e colombianos lá em Manaus no começo da semana, mas o tempo foi muito curto para matar as saudades! A América Latina é um pedaço do mundo, é o mundo. Mistura de raças, de cheiros, de ritmos, uma realidade que há séculos é salpicada dos temperos estrangeiros. Semana muita agitada... Mas vamos continuar a sonhar juntos!
 

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