Raposo Tavares é o primeiro a passar pela região

Conforme historiador Ronaldo Macedo, antes de 1917, bandeirante teria passado por estas terras, com o intuito de capturar índios

PRUDENTE - OSLAINE SILVA

Data 14/09/2017
Horário 14:13
Cedidas/Acervo Museu e Arquivo Histórico, Francisco de Paula Goulart, fundador, com sua família
Cedidas/Acervo Museu e Arquivo Histórico, Francisco de Paula Goulart, fundador, com sua família

O historiador Ronaldo Macedo comenta que apesar de 1917 ser conhecido como o ano do início de Presidente Prudente, antes disso, bandeirantes passaram por estas terras, como Antônio Raposo Tavares, no século 17, que veio sem pretensão nenhuma de plantar uma cidade, mas afim de capturar índios para vendê-los para agricultores do nordeste e de São Paulo. Não à toa, uma das principais rodovias que cortam a região tem o seu nome e ele está na bandeira do município: porque foi o primeiro a passar por toda essa região que era caminho para ele chegar na missão de Guairá, onde apreendeu índios e retornou para São Paulo.

No século 18 havia problemas de limites com a Espanha, depois do Tratado de Madrid, em 1750, quando as fronteiras novas do Brasil foram definidas. O historiador lembra que os problemas eram muito grandes e em função de todos os ataques em missões, a própria missão já era um “calo no pé” da Espanha e Portugal. Então veio uma monção para que se criasse um forte na fronteira do Mato Grosso com o Paraguai, o Iguatemi, que era para justamente evitar esse problema de invasões tanto de lá quanto daqui.

Então, o militar Teotônio José Juzarte enfrentou uma série de problemas de navegação indo pelo Rio Tietê até o Rio Paraná, quando a ideia era descer pelo Paraná e chegar até o Iguatemi, que era na fronteira. Querendo encontrar um rio que voltasse e não tivesse tantos problemas quanto o Tietê, mandou um de seus tenentes dar uma pesquisada a partir do Paraná, que rio chegaria em Sorocaba. E foi entrando por um pequeno rio que encontrou e foi fazendo anotações, levantamentos, mapeando-o: era o Rio Santo Anastácio, até hoje o maior da região. Então, o primeiro registro documental da região de Presidente Prudente é o do cuidadoso e meticuloso Raposo Tavares, de 1769.

 

Demarcando terras

Ainda no século 18, o ciclo do ouro em Minas Gerais era forte, mas, no século 19, as minas vão se extinguindo e os bandeirantes que haviam se fixado por lá começam a retornar a São Paulo, com seus descendentes. Além disso, com a Guerra do Paraguai, os sertões, que eram matas fechadas, habitadas apenas por índios, onde ninguém mais tinha acesso, eram perfeitos esconderijos para as pessoas, como nossa região, a da Alta Paulista, a noroeste. O primeiro mineiro que chega por aqui é José Teodoro, por volta de 1850, inicialmente para capturar índios de uma propriedade de um membro da guarda nacional, que morava em Botucatu, Tito Correia de Melo, que o encorajou, caso quisesse uma posse de terras, que avançasse demarcando limites com uma ideia de propriedade e depois fosse a Botucatu e registrasse na paróquia como sendo sua.

“O que não era posse e sim grilagem. Não só ele veio, mas seu cunhado, João da Silva Oliveira, que fez outra posse, e seu genro Francisco de Paula Moraes, também se apossando de outra área na parte mais alta. Então, na verdade, são três homens que vêm e começam a fundar cidades, São Pedro Turvo, vai subindo, Campos Novos do Paranapanema e Conceição de Monte Alegre, que foram, por acaso, depois, sedes de Presidente Prudente”, recorda Ronaldo.

 

Lado leste da cidade

O historiador ressalta a importância de Francisco de Paula Moraes, porque é do lado dele que vai se desenvolver o lado leste de Prudente. A Gleba Montalvão, que o coronel José Soares Marcondes vai chegar depois e ir loteando parte dessas terras, em contraposição ao outro lado, que era Pirapozinho/Santo Anastácio, que passou de mão em mão até chegar no século 19, às mãos de Manoel Goulart, que começa a lotear. Mas, ele que começou a desenvolver uma doença mental, no sentido de que era perseguido politicamente, que era monarquista dentro da república, não só por isso, mas por conflito de terras, emboscadas, começa a perder a razão, e a família, sua esposa Cândida Marques, e seu filho, Francisco de Paula Goulart, que sempre o acompanhou, assumem os negócios e começam a negociar terras.

Quando o patriarca morre, em 1909, no Juqueri, Francisco de Paula Goulart se casa com dona Isabel Goulart, em Cerqueira César, e se lembra de uma antiga promessa de seu pai, tradição mineira, que era criar um núcleo urbano para controlar a venda de terras. E Prudente nasce assim, da venda de terras.

Ronaldo conta que, a princípio, o objetivo não era se criar uma cidade, mas um ponto de apoio como eram as bocas do sertão para áreas desconhecidas, como foi Botucatu, Sorocaba, Itapetininga, Campos Novos, entre outras.

“Ele vem então, em 1917, assumindo boa parte da área que já era dele, pois tinha comprado dos irmãos. No dia 13 de setembro chega ao Alto do Tamanduá, que é hoje a antiga estação ferroviária e aquela parte alta que vai até a Rua Antonio Rodrigues, quando se depara com a equipe da ferrovia demarcando a futura estação de Prudente [que nem nome tinha ainda]”, conta Ronaldo. “Ele entra em contato com o engenheiro e expõe o desejo de criar um núcleo. Explica que iria abrir uma fazenda de cereais e café de um lado, mas que queria ter uma delimitação para abrir um núcleo. Então, perguntou se o engenheiro não poderia traçar uma avenida ali. O que é feito, o início da Washington Luiz”, relembra.

 

Primeiro núcleo

Francisco de Paula Goulart levanta o primeiro rancho no dia 14 de setembro, daí a data de fundação, porque foi o primeiro estabelecimento dele. Começa a percorrer as terras para ver quem estava por ali, porque seu pai, Manoel Goulart, já havia negociado uma série de trechos para algumas famílias, como a Lala, o José Claro, que trabalhava para a ferrovia (hoje nome de rua), que já estavam nesse solo.

“Goulart veio na raça, como um antigo bandeirante mineiro que enfrentava o mato, índios, qualquer perigo, e a bordo de um trem até Indiana, pegou o lastro e foi até Regente Feijó, seguindo a pé pela estrada boiadeira até chegar no Alto do Tamanduá”, narra o historiador.

O loteamento em si só vem em 1918, quando é feita uma pequena planta, o quadrilátero com quatro avenidas delimitando um pequeno núcleo, despretensioso, porque a finalidade era receber e instalar pessoas que chegassem para comprar terras para o plantio de café. “Goulart vendeu lotes urbanos [para comerciantes de abastecimento e rurais]. A vinda de gente corajosa foi grande, quem tinha poucos recursos investiu em pensões, no comércio ou em pequenas lavouras. Daí a tradição de Prudente ser forte em comércio, porque desde o início é uma atividade que esteve sempre presente, apesar de rançoso”, acentua o historiador.

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