Região tem 2ª pior média salarial para deficientes

REGIÃO - Mariane Gaspareto

Data 04/02/2015
Horário 00:06
 

A 10ª RA (Região Administrativa do Estado) é a segunda com a pior média salarial para trabalhadores com deficiência no Estado de São Paulo, entre as 14 regionais pesquisadas. Atrás apenas da região de Franca, onde a PCD (pessoa com deficiência) ganha R$ 1.183, a média salarial oferecida na RA de Presidente Prudente é de R$ 1.270 – R$ 409 a menos do que a melhor média do Estado, de Registro (R$ 1.679). Em relação ao percentual de trabalhadores com deficiência, Prudente também está entre as piores colocadas no ranking, sendo a quarta com a menor porcentagem. São 194.472 trabalhadores dos quais apenas 0,66% (1.301) são PCDs. A melhor colocada no ranking é a RA de São José dos Campos, que tem 600.639 trabalhadores, sendo 0,96% (5.801) PCDs, e a pior é Registro, com 44.623 trabalhadores, dos quais apenas 178 (0,39%) são pessoas com deficiência. Os dados são do Rais (Relação Anual de Informações Sociais) elaborado pelo MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), utilizando 2013 como ano base.

Para a psicóloga da Unipode (União das Pessoas com Deficiências), Célia Harumi Tarumoto, o "índice ruim" da região de Prudente é influenciado pelas cidades pequenas, que não possuem empresas de médio e grande portes. "Elas não são obrigadas a contratar deficientes, então não contratam", explica. Essas cidades não figuram no levantamento, uma vez que não há pessoas com deficiência contratadas, de modo que a média regional acaba sendo influenciada. Em apenas 11 municípios o número de trabalhadores deficientes é maior do que 20, sendo que seis não têm nenhum PCD contratado. Maior cidade regional, Prudente conta com o maior número de pessoas com deficiência inseridas no mercado de trabalho (705), seguida por Regente Feijó (53), Dracena e Epitácio (ambas com 52 PCDs).

 

Lei de Cotas


Em nenhuma região do Estado, o número de trabalhadores com deficiência chega a 1%. Isso ocorre mesmo após a Lei de Cotas (nº 8.213) de 1991, a qual determina que empresas que empregam entre 100 e 200 funcionários reservem 2% das vagas a deficientes, 3% para 201 a 500 funcionários, 4% para os que possuem entre 501 e mil, e 5% para as empresas cujo quadro possua mais de mil empregados. De acordo com a psicóloga da Unipode, isso ocorre porque "muitas empresas apenas cumprem suas cota por ser uma obrigação legal, e burlam o sistema".

"Elas procuram pessoas que não tenham deficiência intelectual, sejam cegas, ou não tenham um membro inferior, e procuram quem não tem um dedo indicador, ou uma deficiência visual mais leve", explica. Tarumoto revela que se sente "frustrada" com a situação, pois mesmo com 60 PCDs inseridos hoje no mercado de trabalho prudentino, nenhum deles tem uma deficiência grave.

O presidente do Condef (Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência), Milton Takao Mizukawa, acrescenta que outro fator que prejudica a inserção no mercado de trabalho é que uma parcela dos PCDs recebe o benefício assistencial à pessoa com deficiência, do INSS (Instituto Nacional de Seguro Social), e não se insere no mercado de trabalho para não ter o benefício suspendido. Segundo o presidente, a qualificação dessas pessoas também pesa na balança da contratação, e por isso afirma que os PCDs devem procurar entidades especializadas antes de buscar uma vaga no mercado de trabalho.

 

Inserida no mercado


A auxiliar de escritório, Ilza Silva de Jesus, 32, usa prótese em um olho por não ter a visão do mesmo, e foi contratada por uma empresa de Presidente Prudente em maio do ano passado, após ter ingressado na Unipode em setembro de 2013. "Eu conheci a entidade por meio de uma psicóloga que me atendia, onde faço meu acompanhamento médico. Chegando lá fiz aulas, entrei em um projeto e desenvolvi minhas qualificações", explica. Apesar de poder receber benefício do INSS e não trabalhar, ela decidiu buscar uma vaga no mercado de trabalho. "O que me motivou foi o crescimento pessoal e também a consciência de que sou capaz", afirma.

No entanto, ela reconhece que a procura das empresas é por pessoas como ela, que possuem deficiências mais leves. "Tenho tristeza pelos meus colegas que ficam na Unipode pelo preconceito dos contratadores. Acredito que todos têm um dom para ser desenvolvido, e que não existe o impossível", pontua. Apesar de acreditar que os PCDs devem correr atrás das oportunidades, a auxiliar afirma que o caminho não se limita a isso. "As empresas também precisam entender e respeitar cada deficiência, aceitar que cada um tem o seu tempo e seu limite, e oferecer mais vagas para PCDs."

 
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