Revolução dos Bichos e a Suinocracia        

Aldir Guedes Soriano

CRÔNICA - Aldir Guedes Soriano

Data 12/04/2025
Horário 07:00

George Orwell ou Eric Blair (1903-1950) publicou o livro “A Revolução dos Bichos”, em 1945. A fábula é nítida alegoria da revolução russa de outubro de 1917, que merece ser lida, relida e analisada.
Os animais da fazenda – galinhas, ovelhas, cavalos, cães, pombos, cabras e porcos – se revoltam contra os maus-tratos de um fazendeiro beberrão, o Sr. Jones. O porco Major (Marx) convencera a bicharada de que estavam sendo explorados por Jones, que simboliza o rígido governo dos extintos czares russos.
Sob a liderança dos inteligentíssimos porcos Napoleão, Bola de Neve e Garganta, os animais exaltados tomam a fazenda e estabelecem o Animalismo (Comunismo).  A Lei do Estábulo (o Manifesto) louva os quadrúpedes; declara os bípedes inimigos; proíbe o uso de roupas, camas e bebidas alcoólicas; e, por fim, anuncia a igualdade entre os animais. 
Na pocilga, os dois líderes animalistas trabalham juntos, mas em um dado momento, os suínos disputam o poder. Com a ajuda de Garganta (Imprensa) e dos Cães (força policial e judicial), Napoleão (Stalin) cria a falsa narrativa de que Bola de Neve (Trotsky) teria sabotado a construção do moinho e que seria perigoso traidor. Após sofrer intenso ataque difamatório, o porco Bola de Neve acaba sendo expulso da fazenda assim como Trotsky foi banido da URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Gradativamente, os porcos e os cães mudam as leis e imitam os humanos. Então, passam a dormir em camas, usam roupas, andam sobre duas patas e consomem grandes quantidades de cerveja. Os demais animais observam a metamorfose assustadora dos porcos, mas são incapazes de esboçar reação diante da censura, da eficiente desinformação do porquinho Garganta e da encarniçada e feroz repressão dos cães.  
Na fábula, o leitor pode encontrar a triste estória do cavalo Boxer (Sansão) que trabalhou exaustivamente carregando cargas para a construção do moinho. Assim, o velho animal entra em exaustão, tem o seu casco gravemente rachado e fica manco. Apesar da suína promessa de que seria levado para tratamento veterinário, Sansão é, na realidade, vendido para o matadouro de equinos (miolo). O velho burro Benjamim (sábio e intelectual) observa o letreiro de identificação do caminhão do matadouro e percebe, consternado, a enganação gananciosa dos porcos. 
No fim, os porcos conseguem o controle absoluto, dominando e explorando todos os bichos. Eles contam com o auxílio das ovelhas (militantes tagarelas ou idiotas úteis), a lábia de Garganta (mídia chapa branca) e a repressão mediante o terror ou força policialesca dos cães. Agora, na parede do Estábulo se lê apenas uma regra: “Todos os amimais são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros.”  
Imagine um jumbo voando para o exterior, em plena turbulência política e econômica. A bordo, numerosa comitiva de porcos – ou deslumbrada vara instalada em poltronas confortáveis, bebendo e comendo do bom e do melhor. Essencialmente, a inconsequente elite suína revolucionária, no poder, esbanja e exagera, tanto na gastança do dinheiro público quanto na cobrança de impostos. Ovelhas e Gargantas chafurdarão na lama e sairão em defesa da suinocracia, em outros tempos chamada de cleptocracia.    
A obra de Orwell serve de alerta ao revelar as armadilhas populistas, os enganos, mentiras, desinformações, opressões e violências dos processos revolucionários. Idêntica cartilha foi aplicada na Coreia do Norte, Cuba, China, Venezuela e, quiçá, no Brasil. A história se repete nas revoluções, mas o explorado é sempre o mesmo: aquele que carrega a carga e paga o luxo da pocilga: Sansão, Atlas ou, se preferir, Sísifo. 

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