No lançamento do Plano Safra 2025/2026 realizado na tarde desta quinta feira (10), na sede da Sicredi Rio Paraná de Presidente Prudente, a palestra do ex-ministro Roberto Rodrigues foi marcada por críticas a medidas protecionistas internacionais, reflexões sobre a trajetória do agronegócio nacional e o papel crucial das cooperativas no desenvolvimento do setor. Rodrigues, reconhecido por sua longa carreira como engenheiro agrônomo, ex-ministro da Agricultura, coordenador do Centro de Agronegócio da EFGV e embaixador especial da ONU (Organização das Nações Unidas) para a Alimentação, reuniu a plateia em uma conversa franca, abordando temas que vão desde questões logísticas até a visão estratégica para o futuro do agronegócio brasileiro.
Roberto Rodrigues enfatizou que a agricultura é a base da segurança alimentar e da paz social. Segundo o ex-ministro, o Brasil se destaca na produção agrícola não apenas pela vasta área plantada, mas pelo impressionante avanço tecnológico que permitiu um crescimento de 480% na produção de grãos comparado à expansão da área agricultável. Essa evolução tem sido determinante para reduzir a dependência de importações, reestruturar o déficit comercial e impulsionar o agronegócio ao patamar de exportador global de commodities essenciais, como soja, carne e café.
"Segurança alimentar não é apenas um termo, é a condição indispensável para garantir a estabilidade social e política," destacou Rodrigues, ressaltando que um país sem alimento para sua população está fadado a enfrentar revoluções e crises de governo.
Além disso, o orador destacou que a tecnologia e a inovação têm sido essenciais para que o Brasil consiga produzir duas ou até três safras na mesma área, fator que o diferencia no cenário mundial.
Um dos pontos centrais da palestra foi a defesa apaixonada do cooperativismo. Roberto Rodrigues lembrou sua experiência internacional, mencionando sua passagem por diferentes países e como as cooperativas, quando bem estruturadas, conseguem transformar a vida dos agricultores e fortalecer a integração entre os setores rural e urbano.
Ele ressaltou que, embora a agricultura brasileira já conte com iniciativas cooperativistas, é necessário um investimento maior e uma racionalização dos procedimentos para que o setor possa enfrentar desafios globais – desde as barreiras tarifárias impostas por potências internacionais até as crises logísticas que impedem a otimização da cadeia produtiva.
"Cooperativa não é uma sociedade romântica, é uma empresa que deve ser eficiente e viável para agregar valor e distribuir os ganhos de forma justa," afirmou o ex-ministro.
Rodrigues também não poupou críticas ao cenário internacional e às medidas protecionistas que, segundo ele, visam perturbar a soberania brasileira e desvalorizar o trabalho do produtor nacional. Mencionou a recente ação de aumentar tarifas de importação, apontando que os argumentos usados contra o Brasil são inconsistentes e que o verdadeiro problema reside na falta de liderança no cenário global.
No âmbito interno, o ex-ministro chamou a atenção para as deficiências logísticas – falta de armazéns, estradas mal conservadas e a necessidade de envolver o setor público em iniciativas que garantam um fluxo operacional eficiente do campo à cidade. Segundo ele, essas questões não apenas afetam o setor agrícola, mas comprometem a segurança alimentar e a estabilidade econômica do país.
Ainda, Rodrigues destacou a importância de um plano estratégico plurianual, que ultrapasse a tradicional abordagem anual do Plano Safra. Ele apontou que a previsibilidade e a agregação de valor são essenciais para que o Brasil se posicione de maneira competitiva no mercado internacional e possa aproveitar plenamente o potencial do agronegócio para resolver problemas estruturais como a desigualdade social e a degradação ambiental.
Encerrando sua longa e inspiradora intervenção, Roberto Rodrigues fez uma reflexão sobre a interdependência entre o campo e a cidade. Ele enfatizou que a produção agrícola e os avanços tecnológicos dependem diretamente do desenvolvimento urbano – das universidades aos centros de pesquisa, das fábricas de insumos agrícolas aos serviços financeiros que viabilizam a atividade rural.
"Sem a cidade, o agricultor não teria infraestrutura, crédito nem os recursos necessários para plantar, colher e distribuir alimentos. Assim, fortalecer a agricultura é, em última análise, fortalecer a própria base da vida e da paz em um país", concluiu o ex-ministro.
Essa visão integradora reforça o compromisso de Rodrigues com um Brasil mais organizado, sustentável e competitivo, onde o desenvolvimento do agronegócio é visto como a chave não apenas para o crescimento econômico, mas para a construção de uma sociedade mais justa e equilibrada.
Em meio a debates acalorados sobre políticas públicas, acordos comerciais e desafios logísticos, a palestra de Roberto Rodrigues reafirma a importância do agronegócio e das cooperativas como pilares fundamentais para que o Brasil continue conquistando espaços e se destacando no cenário global.
Foto: Sinomar Calmona
Diretores da Sicredi Rio Paraná homenagearam Roberto Rodrigues, ao final de sua palestra
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