Temos estado em casa sem sair já faz 37 dias, desde o último ataque, que espalhou uma densa poeira radioativa por todo o hemisfério norte, que já chegaram à foz do amazonas, e nos deixa, a todos, à revelia de nossas vidas, esperando que a poeira não chegue até nós aqui no sudeste e continuem nos trópicos devido às correntes de vento. Todas as portas e janelas foram lacradas com uma fita adesiva antirradiação, temos energia elétrica, internet, comida congelada e enlatada, pouca e acabando. Água temos, mas não temos leite, ovos ou carne frescos. Não podemos sair, mas apesar disso, muitos trabalhadores continuam saindo e arriscando suas vidas, ainda que usem proteção.
Quando a guerra começou, há 12 anos, os conflitos eram em sua maioria ataques com diferentes tipos de mísseis balísticos e drones, com respostas de lado a lado que duravam meses e cujos resultados continuavam incertos, não havia vencedores apesar das destruições massivas. As diferentes coalizões que se formaram, organizadas basicamente em torno da guerra entre Ocidente versus Oriente, havia levado o planeta à terceira guerra mundial. O Brasil e a totalidade da América do Sul permaneceram neutros no conflito e tivemos muitos benefícios econômicos com o capitalismo de guerra.
A destruição, mesmo benéfica ao capital, uma hora gera descontentamentos, pois se por um lado potencializa a máquina capitalista, por outro, a atrapalha enormemente, atingindo muitos tipos de negócios. Por essas e outras razões, era preciso encerrar a guerra, o inimigo do norte vinha combalido, com enorme dívida pública e com precatórios de lado a lado, a única solução era dar cabo à guerra e para isso pensaram que seria uma boa alternativa o uso de bombas nucleares. Todos sabemos quem atirou primeiro, mas o desencadeamento dos contra ataques fizeram explodir sete bombas nucleares, com países atingidos na Europa, Ásia e América do Norte. Isso foi há 37 dias, depois de 12 anos de guerra.
As cenas horripilantes que agora vemos em tempo real da destruição massiva das belas capitais do norte global, com centenas de milhares de mortos, mostram que não aprendemos nada com Hiroshima e Nagasaki. A angústia da incerteza, se estaremos vivos na próxima semana, causa uma náusea constante, como se já estivéssemos contaminados pela radiação. É uma sensação constante de medo e náusea. As autoridades procuram tranquilizar a população, dizendo que a radiação não chegará ao hemisfério sul e que se chegar, estaremos preparados para conter os danos e remediar a ameaça. É difícil viver a história quando o cenário é desolador.
Oficialmente o mundo continua em guerra, mas as potencias bélicas concordaram com um cessar fogo não generalizado, pois quase diariamente ouvimos notícias de ataques com mísseis ou mesmo conflitos com forças terrestres em diferentes partes do planeta. O Brasil resistiu aos esforços dos dois lados a aderir ao conflito, mas a tradição pacifica do país prevaleceu, ninguém queria entrar nisso. Mas com as bombas tudo mudou, a radiação pode estar ali fora a nossa espera.