Salário a combinar? 

OPINIÃO - Wilson Kunze

Data 23/09/2023
Horário 04:30

Você já participou de um processo seletivo onde o salário só é divulgado na hora da contratação? É preciso lançar uma luz crítica sobre a falta de transparência salarial que prevalece nos processos seletivos conduzidos por boa parte das empresas. Os recrutadores parecem ignorar as evidências contundentes sobre o impacto negativo dessa prática, principalmente quando se trata de desperdício de tempo e dinheiro dos candidatos.
Em um estudo divulgado pelo Glassdoor, um site que permite que usuários avaliem anonimamente empresas onde trabalham, foi revelado que em 2020, oito em cada dez pessoas em busca de emprego preferiam vagas com pelo menos uma informação aproximada de salário. No entanto, contrariando essa preferência, mais da metade dos funcionários entrevistados pela mesma plataforma admitiu que não tinha ideia do salário quando se candidatou ao último emprego. Isso indica uma desconexão gritante entre a expectativa dos candidatos e a prática das empresas.
O processo seletivo muitas vezes se assemelha a um encontro às cegas, onde a empresa detém todo o conhecimento sobre os candidatos, enquanto a recíproca não é verdadeira. Embora haja mudanças em direção à humanização e transparência nas empresas, as práticas de contratação e remuneração permanecem antiquadas. Esse descompasso se torna ainda mais evidente em vagas mal definidas, com exigências excessivas em relação ao cargo, com processos confusos e salários inadequadamente baixos. Essa abordagem reflete um descaso flagrante com as expectativas e necessidades das pessoas que estão do outro lado do processo, que acabam investindo tempo, esforço e dinheiro em uma vaga onde o salário não condiz com a expectativa.  Por outro lado, a empresa também corre o risco de ter candidatos, que ao lhes ser revelado o valor do salário, podem declinar da vaga. 
A decisão de não divulgar a remuneração demonstra um claro desrespeito pelos candidatos, reduzindo-os a meros recursos. A justificativa de estratégia ou privacidade dos salários carece de fundamentação. Empresas sérias adotam a prática de pesquisas salariais para garantir uma remuneração coerente com o mercado. Portanto, a alegação de desconhecimento sobre os salários praticados por concorrentes não se sustenta.
O que se evidencia é que a falta de transparência salarial nos processos seletivos não é apenas um erro estratégico, mas uma falha ética. É fundamental que os recrutadores repensem suas abordagens e adotem a transparência como um imperativo, não apenas para atender às demandas dos candidatos, mas também para se alinharem às melhores práticas do mercado e tratar os indivíduos com o respeito e a consideração que merecem.
E você que é recrutador, qual é o seu modelo de atuação profissional? Espero que não seja o tipo de profissional que deixa o candidato no escuro, pois isso provavelmente está prejudicando a sua imagem e a da empresa que representa. Pense sobre isso! 

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