Salva-vidas

Pensava sobre um tema para o último artigo de 2022 e a virada para 2023. Pensei sobre a Copa do Mundo, mais especificamente os tombos ou quedas dos jogadores ao chão. Alguns caem e se levantam rápido sem ao menos manifestar dor ou algo parecido. Outros caem fazendo fita e ao mesmo tempo espreitando se alguém está observando ou dando relevância. Há os que caem e ali ficam, esperando socorro e piorando cada vez mais, enrolando como se fossem bebês esperando pela mamãe e o seu beijo cura-dor ou repar-a-dor. Tentamos chamar a atenção mesmo, queremos ser olhados, vistos, reconhecidos e amados. 
Acredito que assim como os jogadores, também caímos e nos levantamos, somos carentes e desamparados. O ano de 2022 foi uma grande ciranda. Todos nós entramos na roda da vida. Alguns com mais recursos internos, retomam rápido a rotina. Outros postergam mais. Passamos por momentos de muita instabilidade e na corda bamba, tivemos de seguir em frente. Enfrentamos desafios, lutamos, fracassamos e conquistamos. É um vai-e-vem, sem fim. Temos de acreditar e ter fé que o dia seguinte poderá trazer algo inesperado e novo.  O novo é um ovo, desconhecemos o que tem dentro (Clarice Lispector). Assim como o amado Kinder Ovo. A curiosidade aguça e é onde tudo começa. E assim a vida é um constante “chocar” de ovos. Ah! O tempo! Ele é preciso e é sábio. O que virá? 
Inesperadamente recebi de uma paciente uma imagem de um barco cujo nome era “Terapia”. O barco estava em alto mar, juntamente com muitos outros barcos. E uma frase que dizia assim: “Terapia... aquele barquinho salva-vidas no meio de um mar de confusão”. Para nós psicanalistas, é muito gratificante quando recebemos mensagens como essa. Viver, realmente, é para todos um mar de confusão. Nosso papel envolve a arte do aparelhamento em direção a possíveis recursos salva-vidas no mar de confusão. E assim, “nós, psicanalistas, somos como os antigos bandeirantes lutadores tenazes”. Abrimos caminhos através das espessas e obscuras áreas da mente, conseguimos clareiras que nos permitem alguns rastros de luz num desconhecido que permanece imensamente desconhecido, em suas profundidades insondáveis. Muitas vezes, julgamos encontrar pedras preciosas e encontramos cascalhos..., mas há sempre um pouco mais de conhecimento onde havia o desconhecido, um pouco mais de fé a cada réstia de luz, um pouco mais de esperança de encontrar mais luz... (Judith Seixas Teixeira de Carvalho Andreucci-1977). 
Meus votos de um novo ano promissor e com réstia de luz e esperança. Feliz ano novo!
 

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