SARS-CoV-2, ACE2 e exercício físico

Jair Rodrigues Garcia Júnior

A OMS atribui ao sedentarismo 3,2 milhões de mortes anuais. Numa comparação “indesejável”, a COVID-19 fez 2,8 milhões de vítimas nos primeiros 12 meses. O sedentarismo é uma “pandemia permanente” que a pandemia da COVID-19 exacerbou (leia artigo de 7/2/21). Diretamente, o sedentarismo representa um fator de risco para doenças crônicas e infecciosas.

Ligante
O coronavírus (SARS-CoV-2) é perigosíssimo, porém não possui todas as moléculas necessárias para proliferação, dependendo de nossas células para se multiplicar e causar seus males. A proteína Spike de sua superfície interage com a enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2), uma proteína receptora de nossas células. Após a ligação, a ACE2 conduz o SARS-CoV-2 para dentro das células, onde se aproveita do material genético para sua multiplicação.

Efeitos
As células dos alvéolos pulmonares (local das trocas dos gases) são ricas no receptor ACE2 e estão “no caminho” do SARS-CoV-2 após sua entrada nas vias aéreas. Após a infecção e multiplicação do vírus, o sistema imune começa a atacá-lo, produz citocinas e uma condição inflamatória de grau elevado. Essa inflamação é inevitável, mas se torna um problema ainda maior (lesão dos alvéolos e dificuldade respiratória severa) quando se soma à inflamação sistêmica já existente. Esta última é de grau elevado em pessoas sedentárias, obesas, com disfunção do sistema imune etc.

ACE2
A proteína ACE2 não serve apenas para “receber” o coronavirus. Tem função fisiológica de transformar a proteína angiotensina II em angiotensina 1-7 (Ang 1-7). Estas são duas proteínas ativas e antagônicas, que devem manter o equilíbrio de seus efeitos fisiológicos. A Ang 1-7 produzida pela ACE2 tem efeitos vasodilatador, anti-inflamatório, anti-fibrótico, de proteção cardiovascular e pulmonar, e de aumento da neurogênese.

Covid-19 X Exercício
Quando o SARS-CoV-2 entra nas células e se multiplica, há diminuição da ACE2, o que pode ser crítico para o agravamento da COVID-19, já que os efeitos benéficos da Ang 1-7 são diminuídos. Por isso, uma opção óbvia é uma droga que bloqueie a interação entre a proteína Spike do SARS-CoV-2 e a ACE2. Enquanto não existe essa droga, vamos usar uma terapia não-farmacológica já disponível: o exercício físico. Este é um ativador da ACE2, da produção da Ang 1-7 e de seus efeitos anti-inflamatório, anti-fibrótico, de proteção etc.

Prevenção permanente
O exercício físico representa a primeira linha de defesa contra as doenças metabólicas (ex. diabetes) e infecciosas (ex. COVID-19) associadas com inflamação sistêmica de grau elevado. Até a severidade dos sintomas e mortalidade do vírus H1N1 Influenza da gripe comum, depende da condição metabólica e inflamatória do infectado. O exercício físico é o melhor “remédio” para a prevenção da infecção e da evolução, inclusive comparando com medicamentos.

Vamos usar uma terapia não-farmacológica já disponível: o exercício físico.

 

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