Sem negociação, Cesp inicia demolição de aeroporto

REGIÃO - Jean Ramalho

Data 04/06/2016
Horário 10:13
 

Com estrutura para receber aviões de grande porte, o antigo aeroporto de Rosana, localizado no distrito de Primavera, começou a ser demolido na manhã de ontem pela Cesp (Companhia Energética de São Paulo), proprietária da área. O espaço estava desativado desde que a concessionária pediu a exclusão do mesmo do cadastro de aeródromos privados junto à Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), em meados de agosto de 2011. A prefeita da cidade, Sandra Aparecida de Sousa Kasai (PSDB), afirma que não foi avisada da decisão da empresa de demolir o local e se disse decepcionada, pois "vinha negociando com a Cesp e trabalhando junto às autoridades para regularizar o aeroporto para operações de transporte comercial de passageiros e de cargas".

Jornal O Imparcial Aeroporto começou ser demolido pela Cesp na manhã de ontem

A ação da concessionária gerou uma comoção nas redes sociais, sobretudo entre os moradores de Rosana e Primavera. A própria prefeita disse que foi surpreendida com a iniciativa da Cesp. "Ninguém estava esperando, até porque ninguém foi avisado que o local seria demolido. Todos nós ficamos muito assustados e tristes quando começamos a ver as primeiras fotos na internet", desabafa a prefeita.

A indignação da chefe do Executivo rosanense fez com que ela procurasse a Cesp atrás de explicações. Em uma nota da Assessoria de Imprensa da Prefeitura, o órgão afirma que a concessionária justificou a demolição da construção e do hangar do aeroporto de Primavera pela ocorrência do "constante vandalismo ocorrido no local". "Fiações elétricas e parte do hangar já haviam sido furtadas, além de áreas incendiadas. Desta forma, o espaço está sendo demolido", confirma a nota.

Razão pela qual Sandra Kasai se indignou ainda mais, por não considerar o motivo dado pela empresa plausível. "Acho que isso não é justificativa. Demolir um patrimônio dessa importância em razão do vandalismo é no mínimo incoerente. O local possui um guarda, então, era só reforçar a segurança ou repassar a posse à Prefeitura, que nós cuidaríamos e faríamos as devidas manutenções", considera.

 

Anseio antigo

O repasse da área ao poder público municipal era justamente o anseio não apenas da prefeita, mas principalmente do deputado estadual Mauro Bragato (PSDB). Ambos dizem que vem há tempos mobilizando recursos junto aos órgãos competentes para regularizar o aeroporto à aviação civil. Segundo o parlamentar, a proposta já teria sido apresentada tanto à própria Cesp, como à Anac e ao Daesp (Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo), contudo, os trabalhos não surtiram efeito.

"Batalho há muito tempo para regularizar e estadualizar o aeroporto de Primavera, que foi construído com dinheiro público e é de suma importância para as aspirações turísticas da cidade e da região. Então, fiquei muito triste com essa iniciativa da Cesp em destruir o local", lamenta Bragato. "Considero que não conseguimos vencer nossa batalha por uma postura equivocada e ruim da concessionária, que está defasada da nossa realidade", complementa.

 

Dinheiro público

O mais grave, para o deputado, é que o local teria sido construído com dinheiro público, em razão da construção da UHE (Usina Hidrelétrica de Energia) Engenheiro Sergio Motta, em Primavera. Isso porque, a Cesp é uma empresa de economia mista, ou seja, atua por meio de uma colaboração do Estado e particulares. Para piorar, tanto o deputado como a prefeita ressaltam que o espaço teria passado por uma "grande reforma" há cerca de três anos, que teria custado em torno de R$ 1 milhão.

"A Prefeitura se dispôs a assumir e regularizar o aeroporto, então, não tem sentido a Cesp desmanchar os hangares, uma vez que há cerca de três anos fez uma grande reforma", lamenta Bragato. "O aeroporto está pronto, não precisava muita coisa para colocá-lo em funcionamento, inclusive, entre 2011 e 2012, a Cesp fez uma grande reforma que atualizou toda sua estrutura do local", completa Sandra Kasai.

 

Estrutura

Toda essa indignação com a atitude da companhia se dá pelo fato de o local ter estrutura para receber voos de grande porte. Conforme a Anac, a pista do aeroporto mede 1,5 mil metros de comprimento, por 30 metros de largura. Tamanho que se equipara à área de pousos e decolagens de aeroportos como o de Guarulhos, em São Paulo, e o Santos Dumont, no Rio de Janeiro. "Para o município, que está pleiteando o interesse turístico, um aeroporto seria imprescindível. Pois outras regiões poderiam ser beneficiadas com a instalação do mesmo", argumenta a prefeita.

 

Sem resposta

A reportagem tomou conhecimento da demolição do aeroporto de Primavera na tarde de ontem, por volta das 15h50. Tão logo ficou sabendo, procurou a Assessoria de Imprensa da Cesp e encaminhou a demanda com os questionamentos pertinentes ao caso. No entanto, o departamento de comunicação da companhia afirmou que possivelmente não daria tempo de responder. Fato que se confirmou até o fechamento desta edição.
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