Sem receber kits, municípios arcam com testes

PRUDENTE - Mariane Gaspareto

Data 24/03/2016
Horário 09:49
 

Dos 3 mil kits para testes que visam à detecção de dengue que o Instituto Adolfo Lutz solicitou ao Ministério da Saúde, em outubro do ano passado, para atender todo o Estado de São Paulo, apenas 220 foram enviados. A falta dos materiais tem obrigado municípios da região a custear a aquisição dos kits. Junqueirópolis, Pirapozinho, Presidente Bernardes, Presidente Prudente, Rancharia e Rosana são algumas das cidades que estão sendo oneradas por essa inesperada despesa, mas outros municípios com orçamento mais comprometido pela queda da arrecadação, como Regente Feijó, precisam pautar suas ações de combate nos casos confirmados por diagnóstico clínico, já que os resultados do Adolfo Lutz não estão chegando.

O diretor de Saúde de Junqueirópolis, Adílio Carlos Bortolato, onde houve a confirmação de 13 casos, afirma que os custos com os testes estão começando a pesar para o município. "A quantidade de kits necessária só aumenta a cada dia, e o custo é alto, o que está nos preocupando muito", afirma. Para o diretor, o Ministério da Saúde está transferindo a responsabilidade dos custos dos testes para os municípios, que já estão com o orçamento estrangulado diante da recessão econômica.

De acordo com a Secom (Secretaria Municipal de Comunicação), Prudente tem custeado a R$ 25 cada um dos exames de diagnóstico, realizados pelo Laboratório de Análises Unilab, empresa vencedora da licitação para a prestação do serviço que foi aberta em outubro do ano passado. Atualmente, o município conta com mais de 4,6 mil casos confirmados de dengue, o que significa um gasto de pelo menos R$ 115 mil, sem contar os valores utilizados nos exames que deram resultado negativo e não entraram para a estatística.

A coordenadora da Equipe de Vetores de Presidente Bernardes, Jussara Camargo, por sua vez, aponta que a Prefeitura tem pagado também a um laboratório particular para a análise da sorologia de dengue, visando à celeridade do diagnóstico, pois o instituto não estava enviando os resultados das análises encaminhadas. Hoje, são 59 casos confirmados e 111 notificados no município. Já Rosana, de acordo com a técnica da Vigilância Epidemiológica, Romilda Rezende, se encontra na mesma situação dos demais municípios, pagando kits com recursos próprios. Hoje, a cidade soma 28 confirmações e 70 notificações. Pirapozinho, que conta com 32 catalogações da dengue e 196 notificações, já licitou a compra dos kits dos testes e aguarda pelo recebimento do material para iniciar os trabalhos, de acordo com o auxiliar de enfermagem, Alex dos Santos Andrade.

"Não estamos mandando mais nada pro instituto, porque a gente mandava e não retornava. Estamos na mesma situação de todas as cidades da região", aponta a responsável pelo setor de IEC (Informação, Educação e Comunicação) de Rancharia, Cyntia Elisa Couraça de Souza, município que soma 95 confirmações e 199 casos notificados.

 

Sem orçamento


Para o prefeito Marco Antônio Pereira da Rocha (PSDB), de Regente Feijó, a situação no município é mais caótica pela ausência de recursos para arcar com os testes de dengue, de modo que a Vigilância Epidemiológica acaba "trabalhando no escuro", empenhando ações com base no diagnóstico clínico e nos casos notificados - que hoje já superam 350, apesar de só nove terem sido confirmados.

"O governo federal deveria criar um programa para dar cobertura aos municípios nessa fase crítica de surto de dengue, mas, infelizmente, não existe esse respaldo, e as prefeituras seguem lutando com todas as armas, usando toda sua estrutura da saúde para enfrentar o Aedes aegypti à altura", declara. Conforme Rocha, que também é presidente da Unipontal (União dos Municípios do Pontal do Paranapanema), "todas as cidades" do interior paulista enfrentam problemas por conta do envio deficitário de kits pelo Ministério da Saúde. O perigo dessa falha, como relata, é justamente a subnotificação de casos, como está ocorrendo em Regente Feijó, pela falta de diagnósticos.

 

SAIBA MAIS


CRITÉRIOS PARA EXAMES

A CCD (Coordenadoria de Controle de Doenças) do Estado emitiu um comunicado aos GVEs (Grupos de Vigilância Epidemiológica) no dia 11 deste mês para orientar os municípios paulistas em relação aos exames de sorologia para dengue realizados pelo Instituto Adolfo Lutz. De acordo com a coordenadoria, a medida foi necessária diante da contingência de kits para diagnóstico da doença, decorrente das falhas na entrega pelo Ministério da Saúde. Para o uso racional do material disponível, a CCD definiu critérios para realização dos exames. Serão avaliadas amostras mais recentes, coletadas entre a última quinzena de fevereiro e a primeira semana de março. As coletas de novas amostras deverão ser feitas para casos suspeitos de municípios sem registros de casos autóctones, e para casos graves e óbitos em demais municípios.

 
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