Sesc Thermas promove espetáculo e performance que discutem desafios da maternidade

Atividades ocorrem no centro da cidade e no palco da Área de Convivência do Sesc, propondo reflexão sensível e provocativa

VARIEDADES - DA REDAÇÃO

Data 27/06/2025
Horário 08:00
Foto: Cherri
Espetáculo, com Letícia Bassit, desmitifica a maternidade idealizada, expondo suas contradições, dores, potências e tabus
Espetáculo, com Letícia Bassit, desmitifica a maternidade idealizada, expondo suas contradições, dores, potências e tabus

O Sesc Thermas de Presidente Prudente apresenta uma imersão poética e reflexiva sobre as múltiplas faces da maternidade, nesta sexta-feira, com duas atividades que prometem provocar diálogos e sensibilizar o público.

Na primeira delas, às 17h, a artista Amanda Pessoa apresenta a performance “Culpas”, na Praça Nove de Julho, no Centro. A obra traz à tona as emoções que permeiam o dia a dia da maternidade, explorando as culpas que atravessam as mulheres em diferentes fases de suas vidas.

Durante a ação, Amanda utiliza uma mala repleta de objetos simbólicos como dispositivos cênicos, convidando o público a interagir, compartilhar vivências e refletir sobre suas próprias experiências. Ao ocupar um espaço público, a proposta também democratiza o acesso à arte e promove um diálogo aberto com a cidade.

“Este trabalho nasce da necessidade de dar visibilidade à solidão materna e aos diversos estímulos que atravessam a experiência da maternidade. Dores físicas, emocionais e psicológicas - muitas vezes invisíveis ou naturalizadas - representam apenas uma parte da realidade enfrentada pelas mulheres. Em um constante movimento entre culpa e cobrança, a sociedade parece reforçar, o tempo todo: ‘A culpa é da mãe’”, define a atriz.

Peça teatral

Na sequência, às 20h30, o palco da Área de Convivência do Sesc Thermas recebe o espetáculo teatral “Mãe ou Eu Também Não Gozei”, com a atriz e dramaturga, Letícia Bassit. A obra nasce a partir de uma experiência pessoal da artista, que enfrentou um sistema jurídico machista em busca do reconhecimento da paternidade de seu filho.

Com esse ponto de partida, Letícia mergulha, de forma potente e poética, nas etapas que atravessam o corpo e a vida de qualquer ser humano - gravidez, parto e puerpério - desmitificando a maternidade idealizada e expondo suas contradições, dores, potências e tabus.

Conforme a artista, a maternidade nem sempre é sinônimo de amor incondicional, cuidado e entrega. “Por trás da imagem romantizada, existe uma realidade dura, atravessada por sobrecarga, julgamentos e, muitas vezes, pela ausência paterna. É nesse contexto que surge o espetáculo, uma obra sensível e provocativa, que joga luz sobre temas urgentes, como a maternidade solo, o machismo estrutural, o sistema judiciário e o direito à sexualidade feminina”, destaca.

De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mais de 11 milhões de mulheres vivem na condição de mães solo no Brasil, e entre 2020 e 2021, mais de 320 mil crianças foram registradas sem o nome do pai na certidão, uma queda de 30% no reconhecimento de paternidade no país, se comparado a 2019. Esses números escancaram uma realidade muitas vezes naturalizada e invisibilizada: a da negligência masculina e da sobrecarga feminina.

Além de evidenciar essa problemática, o espetáculo também provoca uma reflexão profunda sobre o que significa ser mulher e mãe em uma sociedade patriarcal. “O que representa, para esse sistema, uma mulher engravidar sem saber quem é o pai? E mais: como lidar com um judiciário que historicamente julga, pune e controla a sexualidade feminina, enquanto permite a omissão dos homens na criação dos filhos?”, questiona Letícia.

Um dos pontos abordados na obra é o princípio jurídico da “exceptio plurium concubentium”, que até poucos anos atrás era usado para negar o direito de investigação de paternidade quando a mulher havia se relacionado com mais de um homem no período fértil. Uma lógica perversa, que além de punir a mulher por sua vida sexual, nega às crianças o direito de ter sua paternidade reconhecida e perpetua a negligência masculina.

“Durante todo o processo de criação da peça, profanei sensações como culpa e medo, que estavam enraizadas no meu corpo sem que eu percebesse. Estudei o funcionamento do judiciário brasileiro no que diz respeito à filiação e me aprofundei na psicanálise para compreender os impactos do desejo, do trauma e das novas configurações familiares. Esse percurso é, acima de tudo, um movimento de desobediência - não só pessoal, mas coletiva - que busca repensar o cuidado e tirar a sobrecarga do corpo das mulheres, criando espaços de invenção, partilha e transformação social”, explica a artista.

O espetáculo conta com recursos de acessibilidade em Libras e classificação indicativa de 16 anos.

Ingressos

Os ingressos estão disponíveis on-line e presencialmente na Central de Atendimento, com valores de R$ 9 (credencial plena), R$ 15 (meia) e R$ 30 (inteira).

Brunão Silva

Amanda Pessoa apresenta a performance “Culpas”, trazendo à tona as emoções que permeiam o dia a dia da maternidade


 

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