Estive no congresso da Febrapsi (Federação Brasileira de Psicanálise), entre os dias 21 e 25 de outubro, em Gramado-Serra Gaúcha (RS). O tema foi sobre a “Sexualidade: o tumulto das diferenças”. Havia 1.600 profissionais especializados em psicologia, psicanálise, psicoterapia, psiquiatria, psicopedagogia, etc., abordando sobre questões que giram em torno da sexualidade e suas especificidades, assim como os seus desdobramentos.
Como psicóloga e psicanalista, participei de duas mesas redondas. Lidamos com as questões relacionadas ao psiquismo do ser humano, sendo assim, entendemos pelo termo sexual, algo que transcende a ideia corrente de “sexo “e é mais abrangente do que a noção restrita aos genitais. Falar sobre sexualidade deveria ser uma tarefa simples, mas, muitas vezes, não é.
Desde os primórdios, assuntos sobre a sexualidade eram considerados proibidos e um grande tabu, excessivamente repulsivo e ofensivo. Jean Laplanche, em seu livro “Sexual: a sexualidade ampliada no sentido freudiano - 2000-2006”, faz uma interessante constatação sintetizada para identidade sexual. “O gênero é plural. É geralmente duplo, com o masculino-feminino, mas não o é por natureza. É muitas vezes plural, como na história das línguas e na evolução social. O sexo é dual. Ele o é pela reprodução sexuada e também por sua simbolização humana, que fixa e engessa a dualidade em presença/ausência, fálico/castrado. O sexual é múltiplo, polimorfo. Descoberta fundamental de Freud, ele fundamenta-se no recalque, no inconsciente, na fantasia. É o objeto da psicanálise. Proposição: o sexual é o resíduo inconsciente do recalque – simbolização do gênero pelo sexo”.
A psicanalista de Curitiba, Cleuza Perrini, preconiza que a função feminina e a masculina, em uma dimensão não sensorial, está presente em todos os seres humanos e o seu reconhecimento é fundamental para o desenvolvimento mental e social. Ela exemplifica essa forma de pensar com um exemplo magnífico, tornando mais fácil a sua compreensão: “A mulher quando grávida passa a viver as duas funções em ação o tempo todo: a parte masculina (ativa), executiva, promove o desenvolvimento da criança dentro de si; a feminina (passiva) contém e acolhe a experiência. O homem “grávido” igualmente interage dentro de si as duas realidades: a feminina (acolhimento) - masculina (segurança)... ao conter suas próprias emoções, bem como ao transmitir essa segurança ao acolher sua mulher e o bebê em formação”.
É muito importante pensar que o ideal é que haja o equilíbrio entre o ser em sua singularidade, entre casais e nas relações sociais sobre essas funções masculina e feminina. Freud, em “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1901-1905), diz assim: “De fato, se pudéssemos dar um conteúdo mais definido aos conceitos ‘masculino’ e ‘feminino’, também se poderia afirmar que a libido é, por necessidade e por regra, de natureza masculina, apareça ela no homem ou na mulher, e independente de o seu objeto ser homem ou mulher”.
Resumindo, o instinto, a pulsão ou libido é sempre ativo, independente do que seja, se vivo estamos, seja homem, mulher, homossexual, bissexual transgêneros, binários etc., lutar é preciso em todos os momentos, pois viver não é fácil, exige muito e o tempo urge. E para viver em pares e na sociedade, é de bom tom que tenhamos modulações, discernimento e equilíbrio entre nossa parte passiva ou ativa independente se for mulher ou homem.
Há momentos em que as mulheres para sobreviver precisam ser deverasmente, ativa (masculinizadas). E assim, há homens que também necessitam de certa delicadeza, sensibilidade e acolhimento em seu relacionamento. É preciso conciliar!