O rapaz caminhava pela rua de forma apressada, com certa preocupação e comportamentos aparentemente estranhos. Trajado como um funcionário, com roupas sociais bem alinhadas, vinha olhando para trás, ora para cima, muitas vezes, parando e se virando para trás, como se esperasse alguém. Logo em seguida continuava com seus passos rápidos, para novamente olhar para cima, como se avistasse algo. A rua, densamente ocupada por prédios altos, árvores, postes e muitos fios, quase que o impedia de ver o céu. Ele, contudo, ia para o meio da rua para poder ver bem.
Logo seu comportamento chamou a atenção de algumas pessoas que faziam o mesmo caminho, e, embora muitos olhassem na mesma direção que ele, ninguém podia ver nada. O rapaz parecia cada vez mais aflito, passava as mãos no rosto, que começava a suar diante dos passos apressados e do nervosismo crescente. Parou em uma esquina, diante de um movimentado cruzamento e enquanto esperava o sinal abrir, pôde olhar com mais tranquilidade para cima. Tapando o sol com as mãos acima dos olhos, fazendo dela uma viseira, ficou parado por alguns minutos nessa contemplação, mesmo depois do sinal abrir. As pessoas desviavam dele sem compreender seus motivos, vendo-o como um louco qualquer.
Deitado no divã, o rapaz tenta se lembrar de suas visões, ao fazer o relato ao seu psicanalista, que ouve atentamente suas palavras:
_ Me parece difícil doutor, agora que tudo passou, compreender a natureza dessas visões que me afligem. Mesmo ontem, em que estive dentro de casa, por vezes, olhava para o teto do quarto de modo a procurar por alguma resposta. Outro dia, em que caminhava para o trabalho, pude ver claramente que havia algo, muito embora, como pode imaginar, eu fosse o único a sentir semelhante panorama. Posso estar louco? Perguntou preocupado ao analista, que parecia absorto em seus próprios pensamentos e fora despertado pelo tom grave e enfático da última palavra. De pronto, respondeu:
_Não pode ser louco apenas por ter semelhantes visões, talvez seja preciso, isso sim, que compreenda as características dessas imagens e com elas, quem sabe, possamos compreender os sofrimentos que porventura o afligem. Veja só, deixe-me perguntar, é um homem religioso?
O rapaz, que seguia deitado, fez menção de levantar-se, um tanto indignado, pois talvez esperasse do psicanalista um entendimento mais aprofundado do que vinha experimentando. Nunca foi religioso e talvez desconhecesse exatamente do que se tratava a religiosidade. Respondeu laconicamente, emendando outra pergunta:
_Não, não, não tenho religião... e outra coisa, pode-se falar disso por aqui?
O terapeuta tinha ares de homem culto e parecia mesmo ser desses ateus convictos, isto é, de um dogmático ateísmo e sua questão parecia ter um tom debochado. Entretanto, parecia ter razões suficientes para o questionamento. Teria algo mais a dizer a esse respeito? Perguntou.
_Agora que estou deitado olhando para cima, confesso que minha cabeça tem estado cheia de imagens, das quais quase nenhuma é possível distinguir, talvez sejam sinais, mas do que?