Sobre indiretas

OPINIÃO - Sandro Rogério dos Santos

Data 21/10/2018
Horário 04:30

“Comecei a andar com minha certidão de nascimento porque tem muita gente achando que eu nasci ontem”. Essa foi a frase que compartilhei numa rede social. Minha intenção ao publicá-la era a de expressar uma ideia provocando reflexões. Dito e feito. Mas o que me escapou foi o quanto algumas pessoas entenderam-na como uma indireta, um recado velado, para elas. Lembrei-me, então, da frase de uma charge (hoje, diz-se, ‘meme’, uma imagem bem-humorada compartilhada infinitas vezes): “se indireta matasse, muitos já teriam morrido”. Esse texto, ora em suas mãos, não é uma indireta para ninguém. Quer ser direta para todos. Uma sadia provocação ao pensamento. Uma permissão para a distensão das relações, atualmente sufocadas.

Uma pessoa vive mobilizada a outra (não é por outra; ela mesma é quem se prende, até, obsessivamente); fica atenta a tudo o que a outra faz. Cada palavra e passo são vistos como uma comunicação direta para si. Tal atitude se dá nas relações mais próximas, como em família, trabalho, clube, escola/faculdade... igreja. Brigas e fortes discussões podem ocorrer quando uma pessoa se sente ‘provocada’ por outra, por exemplo, numa lanchonete ou na praça pública, quem sabe até, no ponto de ônibus. Aquele papo descontraído se torna uma homérica querela. Pior, iniciada por algo não necessariamente pretendido. Alguém ouviu como sendo aquilo para ele e retorquiu.

Com o tempo, pela convivência mais próxima, conseguimos reconhecer nos outros alguns dos seus repetidos comportamentos. Tanto que o jeito de ser deste ou daquele será filtrado por conhecimento anterior. A depender de quem está em estado de mobilização, a ofensa será ou não possível. Com a internet, a ‘aldeia global’, que permite aos 'idiotas' manifestarem livremente as suas ideias, acolhe e expele seus concidadãos. Num papo de gente fechada no próprio mundo é certo que a palavra alheia lhe soará sempre como um chamado para a briga. Nada será dito gratuitamente. Tudo terá segundas intenções. E não estou falando apenas daquele cunhado, nem daquele colega de trabalho ou daquela ajudante na instituição que você pratica voluntariado.

É preciso sair do centro das atenções (e do mundo) para não ser atingido por indiretas. “Balas perdidas”, neste caso, encontram aqueles que vivem esperando-as. Podemos considerar ainda que é bastante danoso conviver com quem não nos respeita. Há gente frágil bancando a forte. Não podendo olhar nos olhos do outro e dizer-lhe tudo quanto sente e pensa, vive de aproveitar ocasiões, palavras, situações, pessoas... para atacar. Sem perceber, o ambiente adoece, apodrece e a confiança morre. Logo, a convivência harmoniosa não será possível. Em tempo, na internet há imensa quantidade de páginas com frases para indiretas. Cito alguns exemplos cujos temas são paquera, traição, inveja e ‘amizades falsas’:

“Não há nada de mau em querer ser melhor que eu, só não se iluda pensando que um dia conseguirá”. “Ninguém é obrigado a se contentar com menos do que merece!” “Quando marca a alma, não precisa marcar território. Fica a dica!” Mais. “Primeira regra da saúde mental: aprender quem merece explicação, quem merece apenas uma resposta e quem não merece absolutamente nada.” “O que você tem todo mundo pode ter, mas o que você é ninguém pode ser.” “Nunca confunda as pessoas que estão a sua volta com pessoas que estão com você.” “Se algumas pessoas se afastarem de você, não fique triste, isso é resposta da oração: ‘livrai-me de todo mal, amém’.”

As relações carecem de comunicação positiva que, por sua vez, exige sinceridade, olho no olho, não o despiste. A verdade deve ser dita diretamente, sempre. Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!

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