Somos globais

Persio Isaac

CRÔNICA - Persio Isaac

Data 19/06/2022
Horário 06:07

Acordo esticado num lençol de tecido chinês, assisto os programas favoritos num televisor com partes eletrônicas de Taiwan e da Coreia do Sul, dirigimos carros provavelmente alemão, japonês ou italiano, conversamos em celulares com plástico tailandês e borracha malaia, trocamos e-mails através de um servidor americano e agora provavelmente está lendo esse texto por uma tela de led fabricada em Cingapura. 
Somos globalizados. Consumimos frações do trabalho de centenas de pessoas, das mais diversas nacionalidades, todos os dias. A pensar que no século 19 a maior fortuna do mundo, do banqueiro judeu-alemão, Nathan Rothschild, morreu de infecção generalizada por causa de um furúnculo nas costas. A septicemia causada por estafilococo. Nem a maior fortuna do mundo ou nenhuma fortuna do mundo seria suficiente para dar-lhes um simples antibiótico, encontrado em qualquer farmácia de hoje. 
Vamos para Nova York. O ano é 1890. Putz nunca vi tanto cavalo, passa dos 200 mil fazendo o transporte das pessoas. Meu Deus, só tem cocô de cavalo nas ruas. Também você quer o quê? Façamos uma conta rapidinho: Cada cavalo produz 10 quilos de cocô por dia. Multiplica por 200 mil cavalos. São exatamente 2 mil toneladas de fezes derramadas nas ruas todos os dias. Se não fosse a invenção dos carros, Nova York estaria enterrada pelo estrume dos cavalos. Junto com isso tudo, seu vasto universo: urina, moscas, carcaças, sujeira, doenças. 
Enfim, se somássemos toda fortuna dos homens mais ricos do século 19, não daria a riqueza que temos à disposição hoje. Vou pegar meu celular, chamar um Uber, ir até o cinema, agradecendo milhões de pessoas do mundo inteiro que trabalham todos os dias para satisfazer nosso consumismo.

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