Sonhar juntos

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 30/10/2022
Horário 05:00

Há muito tempo os sonhos aguçam a curiosidade de muita gente. Os gregos clássicos já dedicavam uma atenção especial para as experiências da imaginação durante o período do sono. Diziam eles que Hypnus, o Deus do Sono, durante as suas longas caminhadas pelos inúmeros mundos que visitava, conheceu Endemyon e desta união nasceu Morpheus, o Deus dos Sonhos. De acordo com a mitologia grega, com suas enormes asas, Morpheu possuía a capacidade de deslocar-se velozmente para todos os cantos do mundo e transformar-se em diversas coisas conforme os sonhos das pessoas. Eu pensei em Morpheus quando comecei a escrever essa crônica que você está lendo nesse momento. Explico.
Você pode não acreditar, mas quando criança eu tive dificuldade de aprender a ler e escrever e não teria passado do 1º para o 2º da escola primária se não fosse a minha mãe acompanhar os meus deveres escolares todo santo dia. Foi ela que, enquanto fazia o almoço, exigia a minha leitura da lição de casa em voz alta. Antes de dormir, ela também lia e contava histórias. 
Talvez os especialistas possam explicar, mas como é importante ler em voz alta. Transformar aquelas letrinhas no papel em uma sonoridade que faça sentido para nós Parece que é o que falta para essa gente que replica as mensagens das redes sociais para a sua lista de endereços de amigos antes de ler em voz alta o que estão enviando por aí (pode ser que se gastassem alguns minutos ouvindo aqueles textos percebessem quantas situações ridículas!). Eu não tinha percebido isso antes de assumir o compromisso semanal de escrever crônicas para o jornal de domingo. Gosto de ler em voz alta o que acabei de escrever para verificar de que forma o texto aguça a minha imaginação, desperta os meus sonhos. Entende? 
Tal situação me faz pensar que a escrita cria uma certa cumplicidade, inicialmente muito difusa na minha cabeça e que, aos poucos, vai ganhando formas de gente. Afinal, a escrita é uma espécie de “leitura mental”. Quando escrevo o texto, eu o recrio na minha mente, concordando, discordando, acrescentando, questionando as ideias do meu leitor onírico. Por sua vez, ao ler o meu texto, você está construindo a sua própria “leitura do mundo”. Daí eu e você nos aproximamos da fronteira entre nossos pontos de vista e uma certa apropriação comungada da realidade. Como diz a música de frase única composta por Raul Seixas, “sonho que se sonha só é só um sonho, mas sonho que se sonha junto é realidade”. Vamos sonhar juntos?
 

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