Após lançar a campanha “Adote O Seu Dragão”, desafiando as relações próximas, com os amigos, os conhecidos, os que constituem sua vida social, real e virtual, os integrantes do Teatro do Alfinete colocaram à prova aquilo que cada um podia dizer de seu amor, um sinal, uma imagem, um texto, uma poesia, uma declaração... No ano passado foram contemplados com edital ProAc-SP (Programa de Incentivo à Cultura do Estado de São Paulo) e neste domingo, oferecendo a contrapartida, em duas sessões, às 20h e às 22h, no Centro Cultural Matarazzo, é chegada a hora da estreia do espetáculo que produziram, “Os Dragões Não Conhecem o Paraíso”, baseado na obra de Caio Fernando Abreu.
Celso Aguiar, produtor do espetáculo, revela que a peça traz um homem que tenta contar uma história. Metaforiza a vivência nesse ambiente de profunda escuridão e incerteza, recorrendo à imagem de dragões. Esses seres mitológicos surgem como contraponto ao homem banal, imerso em suas automáticas atividades cotidianas, limitado a uma realidade circunscrita ao que apenas se deixa apreender pelo olhar.
O homem que conta essa história de dragões protagoniza uma espera dolorosa por esses seres, revelando-se no final da narrativa incapaz de transcender o aprisionador paraíso que a vida urbana impõe.
Conforme ele, Caio Fernando Abreu foi escolhido, assim como seu conto, por ser o escritor da paixão, como se referia a ele Lygia Fagundes Telles, ou Caio F., como gostava de ser chamado. Interessava a eles o tema do conto, o sujeito amoroso como uma figura lendária e mitológica. Um dragão! Um ente de natureza antissocial, que não se prende aos paraísos artificiais e comuns dos humanos, desajustado em qualquer relação.
“Um dragão! Qual a fuga satisfaz a ele mesmo, que sequer importa com a solidão que provoca, desafeito das convenções estabelecidas, apesar do que sua atitude possa causar em dor, a ele e ao outro. Da campanha Adote O Seu Dragão, dos relatos, das considerações em rede, das nossas vivencias, das interlocuções com amigos, da literatura de Caio Fernando, dos nossos amores e de nossas percepções apresentamos esses nossos Dragões”, destaca Celso.
Uma História de Dragões
De acordo o produtor, o Teatro de Alfinete, as transformações que reconfiguraram o modo de apropriação do dia a dia, alteraram não só a nossa estrutura cognitiva como a nossa percepção sensorial. Atribuiu seu espetáculo aos feitios de nossa formação e de nossa cultura, enredando a manha da “espetacularização” dentro desse espaço constituídos, emergentes das informações em rede que conflagram esse sentido novo de alienação. O produtor pontua que devemos ater aos seus mecanismos e apropriar-se de sua tecnologia em proveito, e reafirmar nosso conceito de identidade. Lidamos com muitas reservas com essa grande virada no mapa comunicacional, apesar do que atribuímos de nossa informação em rede, ainda pareamos os estados mais prosaicos de nossa ação, com pouquíssimas atribuições do fim em si, bastando em si mesmo a cotidianidade dos nossos hábitos, costumes e o exercício frágil das comunicações aderentes aos espetáculos comuns do dia a dia. Situamos essa nova configuração / situação na convivência de dois seres em condições diferentes. “Enquanto um, em sua aridez não se convence de seus vínculos, o outro necessita estar ligado a alguém, ainda que seja um excêntrico”, destaca.
Teatro do alfinete
O Teatro do Alfinete surgiu no ano de 2002 a partir de uma ação do agente cultural Celso Aguiar com jovens, moradores do Conjunto Habitacional Ana Jacinta e com participantes de uma oficina de bonecos na Oficina Cultural Timochenco Wehbi. O desejo de se constituir como grupo consolidou com participantes remanescente de outros grupos, que se juntaram ao Teatro do Alfinete.
De 2009 a 2012, é um dos grupos integrantes da Federação Prudentina de Teatro e Artes Integradas, nos projetos: Ponto de Cultura Prudente em Cena, Ensaiando um País Melhor e projeto Pontinho de Cultura. Nessas ações, realiza apresentações em diversos locais da cidade buscando a formação de público e a difusão das artes apropriando de espaços outros e recriando novos espaços de convergências de pessoas pela cidade.
Suas montagens são: “O Auto do Boi”, “O casamento caipira”, em 2003, intervenção e parada de rua; “A gigandrilha”, em 2004; “O velho da horta” de Gil Vicente, em 2005; “O auto da barca do inferno” de Gil Vicente, em 2005; “Caixinha de música” de Caio Fernando Abreu, em 2006; “O Meu Tio O Iauaretê” de Guimarães Rosa, em 2006; “Presepadas”; “Piadas e Alfinetadas”, em 2007; “Memórias de Minhas Putas Tristes” de Gabriel Garcia Marques, em 2007; “Quixote, uma aventura muito louca” de Miguel de Cervantes, em 2009; “Descanse em Paz” com textos de M. Quirolo e excertos de Bobók e de Dostoiéviski, em 2011.
Com Teatro do Alfinete
FICHA TÉCNICA
Diretor / dramaturgia – Cláudio Dolcimáscolo
Ator / iluminação – Celso Aguiar
Ator / contrarregra / músico – Vinícius Lucci
Cenografia/identidade visual – Roberto Bertoncini
Fotografia – Paulo Brazyl
Consultoria literária – Rubens Shirassu
Figurinos – Teatro do Alfinete
Preparação Corporal – Emerson Euzébio
Produção – Celso Aguiar
Coordenação Geral – Teatro do Alfinete
Duração: 45 minutos
Classificação: 14 anos