Tem pai que é cego

DignaIdade

COLUNA - DignaIdade

Data 14/02/2023
Horário 06:07

Durante a década de 1980, o grande artista Jô Soares apresentava nas noites de segunda-feira na Rede Globo, o programa humorístico “Viva o Gordo” (de 1981-86, em 1987 transferiu-se para o SBT criando o “Veja o Gordo”). Dentre os diversos tipos e personagens criados por ele, um destaque para Tavares, um homem com cachimbo na boca que vivia se gabando das peripécias do seu filho Dorival (que nunca aparece, sempre só é citado). Sempre se deparava com algum amigo em uma festa, com um copo de whisky na mão e já disparava as bravatas do filho, que tinha óbvias tendências homossexuais, e ele sempre defendia o rebento como machão inquestionável. Aproveitava para também sempre desconfiar dos filhos dos outros (na foto o ator Luiz Delfino), a quem tirava sarro, e sempre recomendava que o rapaz em questão fosse passar uma temporada lá em casa com o Dorival para aprender a ser machão e soltava o bordão: Abre o olho, tem pai que é cego! A frase ficou famosa por expressar a tendência de superproteção paterna que o impede de enxergar o que se passa com os próprios filhos. Em tempos politicamente corretos como os atuais, o quadro seria facilmente cancelado, mas naqueles suaves e sem-noção anos 80 era tudo muito divertido. 
    
“Quando chega a nora”

A figura da sogra é uma das representações familiares mais estereotipadas que existem: a maioria é tida como inflexível, peçonhenta, rancorosa, malvada, e intrometida. Muitas são, mas inúmeras não. E a figura da nora é muito menos comentada, e na análise da parenta anterior, sobra a ela então o papel da vítima, incompreendida, mal recebida na família, e passiva aos intrometimentos da mãe do esposo. Muitas são, mas inúmeras não. Para começar, nem sempre a relação sogra e nora é assim tão belicosa, e são muito cordiais, agregadoras, afetuosas e de cumplicidade. Enquanto muitas sogras podem ter melindres quanto à pretendida escolhida pelo filho, existem também muitas noras com dificuldade de se agregar a um novo seio familiar. Tem como referência exclusivamente a sua família original, e a família do marido passa a ser sempre um alvo de disputa, competitividade. Tem a dificuldade de se agregar a novos grupos, entender diferenças familiares, respeitar a permanência do amor do esposo por sua família original e não enxerga palpites ou opiniões como algo positivo, sempre achando que é tudo intromissão invasiva. Fazem questão de se mostrarem donas de si e de sua família. Não enxergam os sobrinhos do marido como seus, e eterniza disputas e rivalidades com seus próprios filhos. Maledicentes, sempre se acham preteridas, sem perceber que são as primeiras a exercer as ações diferenciais. Não gostam de convidar, e quando são convidadas vão a contragosto, de cara emburrada. Quando a sogra envelhece, adoece, ou fica viúva, criaram um abismo de dificuldades que praticamente impossibilitam uma convivência harmoniosa ou até mesmo de zelo e cuidado. Filhos passivos passam de mãos, das mães para suas esposas, e estas últimas sempre vencem, numa disputa desnecessária e não natural. Este texto refere-se a noras, por serem as mulheres naturalmente mais acolhedoras e responsáveis pelas uniões familiares. O termo inglês para nora (sister-in-law) nos remete à obrigação legal da nora para com seus sogros: filha-na-lei. Nora: não dê de ombros para os pais idosos de seus maridos; Genro: não fique intolerante com os pais idosos de sua esposa. Afinal, sogros, nora e genro são títulos temporários e transferíveis de uma geração a outra. 

Dica da Semana

Livros 

“Marco Aurélio – Meditações”:
Editora Lafonte. Autor: Marco Aurélio, O Imperador Filosófico. Anotações pessoais escritas pelo Imperador Romano Marco Aurélio entre os anos 170 e 180, também conhecidas como Meditações a mim Mesmo. Uma das bases da corrente Estoicismo: o controle das emoções para que se evitem os erros de julgamento. Algumas frases: “O que não é bom para o enxame, não é bom tampouco para a abelha”. 
 

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