Tempo com os filhos

OPINIÃO - Marcos Akira Mizusaki

Data 21/03/2023
Horário 05:00

A vida moderna tem refletido muito em nossas famílias. A “correria” do dia a dia, com excesso de informações, atividades, trabalhos, transporte, vida social, etc., tem reduzido consideravelmente o tempo que os pais devem estar com seus filhos. Muitos terceirizam estas funções, por necessidade ou comodidade, refletindo muitas vezes de forma negativa na formação da personalidade destas crianças e adolescentes. 
Mas o pior. Mesmo estando com seus filhos, em busca de substituição de sua paz, os pais entregam sem qualquer controle de tempo e conteúdo, celulares ou outros aparelhos eletrônicos aos seus filhos. Isso é muito ruim, pois representam equipamentos que hipnotizam as crianças e adolescentes por horas, fazendo com que eles cresçam acostumados apenas a fazer somente aquilo que lhes dão prazer. Por consequência, desenvolvem a equívoca convicção de que devem estar felizes o tempo todo, valorizando apenas as regras que os beneficiam, ignorando as coletivas e do mundo afora (passam a viver numa bolha). 
Além disso, temos uma outra consequência maligna: a dificuldade de lidar com frustrações. Portanto, tenho que o maior perigo atual que atinge os jovens de hoje não são as drogas, mas sim a distância física e emocional dos pais com os filhos. 
É comum aparecer nas promotorias da Infância e Juventude, adolescentes de classe média alta, cujos pais foram surpreendidos com seus filhos fazendo uso de substância ilícita. Na maioria dos casos, isso é fruto de sua própria omissão, pois permitiram os filhos crescerem individualistas e consumistas, levando-os muitas vezes a buscar estas substâncias ilegais frente às primeiras frustações (pequenas brigas entre amigos, a negativa de um pedido aos pais, rompimento de namoro, etc).
Tendo em suas mentes apenas satisfações imediatas e individuais, as obrigações coletivas não cabem em suas vidas. Pensam que o mundo deve lhe servir, tornando-se facilmente um adulto parasita, bem como, alvos fáceis de outros jovens ou adultos que buscam a prática de atividades ilícitas. 
Todos estes jovens têm em comum a dificuldade de projeção de seu futuro. Os que iniciam o ensino universitário (pois muitos sequer desejam) apresentam dificuldades na sua frequência, onde muitos acabam desistindo. Em 2021, cerca de 3,42 milhões de estudantes abandonaram as universidades privadas, representando uma taxa de abandono de 36,6%. Estamos praticamente vivendo uma epidemia de abandono universitário. 
Portanto, os pais/responsáveis não podem abrir mão de certos valores e princípios na educação de seus filhos, que vem acontecendo de forma silenciosa e aparente invisibilidade ao longo dos anos. A criação de adultos dignos depende da maneira em que os pais vivem o seu dia a dia com seus filhos. Fomentar uma perspectiva de futuro da prole faz com que eles criem mentalmente um caminho produtivo, fazendo com que progridam, estudem e realizem seus sonhos, que depende praticamente de seu esforço individual. 
Por fim, jamais presenteie uma criança/adolescente com um celular/equipamento eletrônico, se não estiver associado ao cumprimento de normas (uma vez imposta, deve ser rigorosamente cumprida). Lembrem-se que a diferença entre um remédio e um veneno é a dose. Isso acontece também quando presenteamos excessivamente; equipamentos eletrônicos não podem substituir o tempo que devemos estar com nossos filhos.
 

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