O celular toca às 8h40 num domingo de vestibular. Toca insistentemente. Ao atender do outro lado um jovem diz: “Mãe, esqueci minha identidade. Sem, não posso prestar o vestibular. E agora? Esqueci, em casa, dentro da minha carteira. O que faço sem minha identidade?”. A mãe diz: “Precisa da identidade, não sabia? Ela é o documento principal, sem ela você não poderá prestar o vestibular”. O jovem do outro lado fala: “E agora? Vou embora? Fico aqui e converso com o guarda?”. A mãe diz do outro lado: “Calma, me deixa pensar... Conversa com o guarda, diz que você esqueceu sua identidade. Veja o que ele fala”. O jovem liga novamente, “Mãe traz minha identidade. O guarda disse, que como eu já entrei pelo portão, vai me deixar prestar o vestibular, mas com a condição de você trazer minha identidade. Por favor, venha aqui agora, e me traga. Eu preciso que você faça isso para mim. Para eu fazer o vestibular preciso de minha identidade”. Temos um corpo e o espaço mental para ser pensado. Há que se esperar o tempo. Qual o tempo que o tempo precisa, para a construção mental da própria identidade subjetiva? Quem se atreve a dizer quando a infância acaba, ou a adolescência chega ou nos tornamos adultos? Tudo é muito relativo. O adolescente vestibulando pode estar bem no ponto de vista pedagógico, intelectual e operativo, mas a idade psíquica é muito relativa. Para formarmos nossa identidade e subjetividade ocupando o espaço, com essência e significado, demanda um tempo que só com o tempo para dar contorno ao corpo. Quando o bebê nasce, nasce no tempo necessário de vida intrauterina, ele sai de um espaço para ocupar outro espaço. Esse espaço é só dele. O bebê vai lentamente com o tempo, ocupando esse espaço, ou seja, dando vida a esse contorno corporal. A mãe vai permitindo ao bebê encontrar significado para sua existência. Assim como a mãe vai tornando-se mãe com o bebê. O bebê permite à mãe transformar-se com o tempo e o espaço, em mãe. Assim ganha se identidade. Nem sempre esse tempo e espaço são iguais para todos. Difere. É muito relativo. Ser adulto é ter capacidade para estar só. A escolha de profissão ocorre na adolescência e é uma fase do desenvolvimento onde ocorre uma avalanche de mudanças: puberdade, também hormonais, e as mais importantes que são psicossociais. Muitas vezes o adolescente se pega sem saber onde colocar as mãos, como se comportar em determinados lugares. A inibição, sintomas e angústias nessa fase, dificultam em muito o espaço e o tempo para alcançar a subjetividade ou a identidade. É importante para a evolução do ser humano desenvolver se num ambiente saudável de referências, limites e contenção, onde o tempo e o espaço sejam respeitados e equilibrados. Os pais devem entender com sabedoria que não devemos deixar com que os filhos tenham espaços sem fronteiras. É necessário, com amor, delimitar e dar continência. Impor com bom senso e com muita firmeza, seus pontos de vistas. O dialogo é essencial.