Tomei losartana por 30 anos

OPINIÃO - José Renato Nalini

Data 10/05/2022
Horário 04:30

Durante 30 anos consumi losartana potássica mais hidroclorotiazida, 50 mg + 12,5 mg pela manhã e losartana potássica 50 mg à noite. Ambas do laboratório Medley.
Eis senão quando, vejo meia página da mídia espontânea fazendo “recall”. Suspeita de que o medicamento poderia ser cancerígeno.
A empresa farmacêutica Sanofi Medley anunciou que recolheria do mercado os lotes desse remédio de que todos os que sofrem de hipertensão se utilizam. 
Mais nada. Ainda fui à farmácia mais próxima, com a intenção de devolver as caixas de que ainda disponho. Não receberam. 
São coisas que assustam. Como é que uma empresa chega ao ponto de produzir medicamentos com impurezas causadoras de mutações e aumentar o risco de câncer?
Depois dessa publicação, nada mais. É fácil dizer que é preciso tomar cuidado ao interromper a medicação, porque a descontinuidade abrupta é maior do que o risco potencial apresentado pela impureza. Mas o paciente fica alarmado e com razão.
Essas ocorrências deveriam ser imediatamente corrigidas mediante recolhimento ou indicação de lugares para que os consumidores pudessem entregar seus lotes e, com toda a legitimidade, receber produto análogo, adquirido pela empresa a outro laboratório.
Veja-se que a propalada “defesa do consumidor” resta bem abalada nesse caso. Uma publicação de meia página. Quem é o leitor assíduo dos jornais? Uma parcela esclarecida da população. Mas a pressão alta não escolhe a sua clientela preferencial. Ela acomete pobres, miseráveis, desempregados, analfabetos, carentes de toda a sorte. 
São exatamente esses os que mereceriam cuidado especial por parte de quem está no mercado e se sujeita às vicissitudes que ele acarreta. 
Enfim, como fica aquele hipertenso que durante três décadas foi assíduo comprador de losartana, consumiu-a regular e religiosamente, recebe esse aviso que, por acaso, foi lido. Não conseguiu devolver a quantidade de comprimidos que já havia adquirido, pois é remédio de uso contínuo e fica sem saber o que fazer, além do justificado receio de estar mais sujeito a ter câncer do que os demais?
Existe mesmo o Código de Defesa do Consumidor brasileiro?
 

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