Crueldade. Esta é a palavra que melhor define o tráfico de animais silvestres, que, infelizmente, é uma realidade frequente no Brasil. O país, tão abençoado por suas belezas naturais, obviamente apresenta uma fauna exuberante, extremamente diversificada. E, diante de tamanha exuberância, não faltam oportunistas e criminosos para tirar proveito dela. É incompreensível como a ganância pode custar a vida de tantos animais, que são retirados de seu habitat natural somente para servir de entretenimento para as pessoas.
Imagina a dor e sofrimento a que esses bichos são submetidos. A maior parte deles morre antes mesmo de chegar ao seu destino final. Amontoados em caixas, presos em gaiolas minúsculas, sem ventilação, sem alimento e água. É o cúmulo do absurdo. Nesta semana, a Polícia Militar Rodoviária apreendeu, em Rosana, 60 aves silvestres durante fiscalizações de trânsito na Rodovia Arlindo Béttio (SP-613).
Ao todo, foram resgatados 46 papagaios-verdadeiros, sete gaviões, duas corujas-da-igreja, duas corujas-buraqueiras e três carcarás. As aves estavam escondidas no porta-malas de um carro que seguia para a capital paulista. A imagem dos pobrezinhos apavorados, externando os maus-tratos sofridos, causou indignação. Justamente para eles, que entre todos os animais são os que mais representam a liberdade, que ganham os céus ao bater suas asas, é difícil imaginar a tristeza e martírio que estavam a passar.
Graças à abordagem policial, essas aves tiveram um destino diferente de tantas outras que são covardemente capturadas todos os dias, em todos os cantos do país. E pior do que quem retira os animais de seus habitats, é quem compra e financia tamanha atrocidade. Porque se não houvesse quem compre, certamente o tráfico de animais não existiria.
Na ocorrência registrada em Rosana, o indiciado, de 21 anos, recebeu uma autuação de R$ 420 mil por transportar espécies da fauna silvestre e maus-tratos. No entanto, como manda a lei, ele foi liberado. Agora, só resta a torcida para que ele não volte a fazer a mesma coisa. O valor da multa é alto, mas é bem improvável que ela seja paga. Ou seja, o sentimento de impunidade corrobora para que o jovem reincida neste tipo de delito. Passou da hora das leis serem mais rígidas, tanto para quem atua no tráfico de animais, quanto para quem financia esta barbaridade, antes que a fauna brasileira esteja fadada aos livros de animais em extinção.