UDR pede investigação em arrecadação de terras

O objetivo é arrecadar pouco mais de 18 mil hectares de imóveis rurais da região e destiná-las à reforma agrária, indenizando os possuidores das terras pelas benfeitorias ali realizadas.

REGIÃO - Iury Greghi

Data 20/03/2014
Horário 08:25
 

A União Democrática Ruralista (UDR) entregou ontem uma representação ao Ministério Público Federal (MPF) pedindo que sejam investigadas as negociações entre o poder público e os fazendeiros do Pontal do Paranapanema, para viabilizar a criação de 17 novos assentamentos. A UDR suspeita que, entre as terras sondadas, haja propriedades invadidas por membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), "o que anularia qualquer tentativa de acordo".

Jornal O Imparcial Nabhan, presidente da UDR: "Negociar fazenda invadida é uma apologia ao crime"

Os fazendeiros estão sendo procurados por membros da Fundação Instituto de Terras de São Paulo (Itesp) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), órgãos que representam Estado e União em um convênio firmado no dia 21 de fevereiro. O objetivo é arrecadar pouco mais de 18 mil hectares de imóveis rurais da região e destiná-las à reforma agrária, indenizando os possuidores das terras pelas benfeitorias ali realizadas.

Dias após a assinatura do acordo, militantes do MST promoveram uma série de invasões a propriedades rurais paulistas – a maioria delas no Pontal do Paranapanema -, em um movimento denominado "Carnaval Vermelho". Estimativa divulgada em 6 de março por O Imparcial revelou que aproximadamente 30 fazendas foram alvo dos militantes.

O presidente da UDR, Luiz Antônio Nabhan Garcia, teme que haja relações entre o anúncio do convênio e a mobilização, como forma de pressionar os proprietários de terras a fazer negócio com o governo. "Se houver fazenda invadida sendo negociada pelo poder público, nós entendemos que isso parece uma apologia ao crime, uma premiação ao criminoso, ou seja, eu invado uma terra e o Estado ainda utiliza dinheiro público para me recompensar", contesta o líder ruralista. Uma vez constatadas as suposições da entidade ruralista, Nabhan pede que o MPF intervenha para responsabilizar Estado e a União por improbidade administrativa.

O Incra garantiu, em nota, que as áreas requeridas já foram julgadas devolutas, ou seja, são de propriedade do governo. A entidade ruralista contesta a informação. "As terras devolutas que existiam já foram arrecadadas há 15 anos, o que existe hoje são terras com ação discriminatória, que são discutidas na Justiça, mas não há nada decidido", declara Nabhan.

 

Posicionamento

A assessoria do Itesp informa que a homologação dos acordos com os fazendeiros será feita em juízo e com a presença da Procuradoria Geral do Estado (PGE). O Incra, por sua vez, lembra que a verba de R$ 55 milhões disponibilizada para o convênio visa unicamente indenizar os fazendeiros pelas benfeitorias e por antecipação de acordos judiciais, portanto, não se trata de "compra de terras". O órgão ainda relatou que, no dia 6 de março, Incra, Itesp e a PGE realizaram uma reunião com o MPF e a Polícia Federal, com o objetivo de levar a conhecimento todo o teor do convênio. "Nesta data, foram inclusive listadas as propriedades rurais passíveis de negociação", informou.

A representação da UDR foi entregue no fim da tarde de ontem ao procurador-geral da República, Tito Lívio Seabra. O representante do MPF disse que precisaria se inteirar melhor sobre o teor do pedido, por isso, não atendeu à reportagem.
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