Um ano de Coronavírus e duas faces históricas

Roberto Mancuzo

CRÔNICA - Roberto Mancuzo

Data 02/03/2021
Horário 05:55

Há pouco mais de um ano a nossa geração entrava para a história, e de uma maneira muito imprevisível: uma pandemia cobriu o mundo e não só provocou medo e insegurança, mas matou e ainda vai matar, infelizmente, milhões e milhões de seres humanos. 
Estaremos sim nos livros de história. Mas goste você ou não, esse protagonismo terá ao menos duas faces. 

A face ignorante

Uma massa enorme de pessoas decidiu logo cedo que tudo não passava de uma bobagem, apesar de todos os perigos anunciados e já vistos em outros países. E muitas teorias surgiram para justificar o viés negacionista. 
Primeiro de que o vírus fazia parte de um complô chinês para dominar o mundo, seguido também de uma vacina chinesa que iria inocular em todos nós um chip e assim seríamos controlados. 
Outro caminho apontava que tudo não passava de uma simples seleção natural, em que os mais fracos, em especial idosos e pessoas com doenças crônicas do tipo diabetes e pressão alta, seriam devastados para que outros seres humanos mais fortes mantivessem a vida na Terra. 
Em terceiro lugar, uma grande massa, não menos perigosa, entendia e ainda entende (!) que a pandemia não deve ser tratada com isolamento social, máscaras e vacinas e a justificativa é que isso tudo derrubaria as economias e traria caos e desespero. Como se a morte de milhões de pessoas e as famílias com isso devastadas já não fossem um caos e um desespero suficientes. Pessoas querem trabalhar, sim, mas precisam viver primeiro.
E por fim, precisamos falar sobre o grande número de idiotas, que na mais clara definição do termo são pessoas que carecem de inteligência e discernimento. Este grupo não compactua exatamente com as outras três condições já impostas porque são o que são: idiotas. Compõem esta base, organizadores de aglomerações e festas clandestinas, os próprios frequentadores destes lugares e quem decidiu fazer negócios em momentos e lugares proibidos ou inadequados quando os planos de contingência pediam o contrário e os leitos de UTI nos hospitais locais estavam lotados. 

A face resiliente

Na linha de combate a estes grupos medíocres e ignorantes, está uma quantidade muito maior de pessoas e eu me incluo aqui. Junto com os profissionais de saúde, autoridades conscientes do problema e cientistas, pessoas de quem já tratei com muito respeito e consideração na crônica “Meu presente da Natal vai para...”, há um ano tentamos enfrentar o vírus com muita consciência. Não sem medo, claro, porque sobre todos nós há sempre uma espécie de nuvem macabra que ameaça desabar a qualquer instante. Não sem fazer algumas bobagens também, escorregadas, claro, mas tentamos. 
Estamos com máscaras, fazemos uso de álcool em gel, evitamos as aglomerações e ainda assim continuamos a trabalhar. Perdemos dinheiro também, rendas importantes, mas nem por isso jogamos fora o bom senso de dizer que por causa de disso iríamos permitir a disseminação em massa de uma doença tão séria. 
Neste grupo também estão milhões de trabalhadores brasileiros que não possuem sequer a chance de escolher se podem ou não ficar em casa ou evitar um ônibus lotado. Não estão nas ruas para festar ou comprar uma bugiganga no comércio de 1,99, mas para defender o pão de cada dia e manter a família viva. E precisam, com isso, encarar condições de trabalho inseguras, desumanas e sabem que se caírem doentes terão ainda que entrar em uma das filas mais assustadoras que existem: a de quem consegue ter ou não um tratamento adequado nos hospitais. Vacina? Difícil acreditar porque a estes trabalhadores que encaram aglomerações necessárias, dia após dia, sequer foi dada a chance de prioridade na vacinação. Possuem até alguma esperança, mas sabem que em um país onde o plano de vacinação é como uma peneira de tantos buracos a lógica será contar, de novo, com a sorte. 

Enfim, um ano, amigos! Um ano e a sociedade conseguiu se mostrar desta forma: dividida entre a ignorância e resiliência. Qual destes grupos irá crescer mais nos próximos meses? Em qual deles você quer estar ou permanecer? 
     
 

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