UM CELEIRO DE CRAQUES

Persio Isaac

"Quem pede tem preferência, quem se desloca recebe". Neném Prancha

CRÔNICA - Persio Isaac

Data 17/11/2019
Horário 06:14

Vivi intensamente as peladas da várzea prudentina. Era um celeiro de craques e daria para escrever um livro de histórias engraçadas. A boleirada com um espírito de quem vê a vida como uma bola de futebol. A resenha depois dos jogos não tem preço, só gozações, risadas à vontade. Vão tomando copos e copos de cervejas, sentindo a vida como jogadores de futebol. Quem viveu, sente saudades. E tem motivo para senti-la. Sentir saudades é pra quem tem história pra contar. Ela adora ser lembrada.

Lembro de um causo do Almeidão, zagueiro do Corintinha. Antes do jogo, no vestiário, aquele ritual mágico que todos os jogadores fazem: Rezar o Pai Nosso. Todos irmanados, com o mesmo sonho, todos pensando na família, pedem proteção a Deus. Rezam o Pai Nosso gritando, espantando o mau olhado. Entraram no campo com a adrenalina no céu. A superstição se mistura com a fé: fazem o nome do Pai, outros só entram pisando no gramado com o pé esquerdo, alguns dão 3 a 4 pulinhos com uma perna só.

Começa o jogo. O alambrado é uma praça da alegria com seus personagens e os dialetos engraçados: "OH LATERAR POTREGE MAIS A BOLA, O JOGO TÁ MUITO AÇULERADO". Acabou o primeiro tempo, voltam pro vestiário com 4 a 0 pros Home.

Almeidão olha com cara de touro bravo e diz: "Oh, só rezá não dianta não, tem que jugá, e pode rezá o Pai Nosso mais baixo porque Deus não é surdo.

Outro causo engraçado foi com o Nenê Medeiros. Jogava de ponta-esquerda. Era rápido, mas franzino. A zaga adversária eram os temidos Gilbertão e Pelezão. Só pelo ãos dos nomes já dá pra sentir que o "burrego" corria solto. Batiam até cansar. Peba (in memorian), um craque da lendária e querida Família Miranda estava jogando.

Peba era um negro orgulhoso, habilidoso e de personalidade. Notou que o Nenê estava vindo muito pro meio e perguntou: Oh Nenê que você tá fazendo aqui? Ué Peba, vim buscar o jogo. Então, se for isso, não precisa vir não, porque o jogo vai lá. Com Gilbertão e Pelezão o Nenê não iria lá nem se estivesse com Deus. O irmão do Peba, Antonio Carlos Miranda, o Café, ainda muito jovem foi fazer um teste no Operário de Campo Grande. Moleque ainda se empolgou e foi pra noite.

Chegou bem de manhãzinha, bateu na porta e o porteiro perguntou: "Quem é? É o Café. Café só depois das 9:00 horas. Caiu a casa. O Treinador chegou, soube da escapada e o Café teve que adiar seu sonho de ser um jogador profissional. Porteiro burro. Tempos atrás encontrei o Café no Calçadão e perguntei: E aí Café, como está a vida? Ele com sua linguagem da bola respondeu: "SÓ BOLA NA TRAVE". Vejam Vocês.

 

 

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