Um dia, você descobre que não há nada que te deixe mais vivo do que um grande amor;
Um dia o amor dá a exata dimensão da organicidade de nossos corpos;
Um dia você percebe que sim, somos feitos para amar;
Um dia a respiração fica ofegante e a perna bamba;
Um dia você descobre que tudo se encaixa;
Um dia você deixa de se preocupar com o mundo todo e decide cuidar de uma só pessoa;
Um dia você jura;
Um dia você se percebe forte e imbatível;
Um dia você ouve sinos, assim, do nada;
Um dia você descobre que o amor tem seus tempos, mas todo tempo é para amar;
Um dia você descobre que é muito bom dançar, mesmo que sobre os escombros;
Mas um dia as histórias já não eram mais tão legais;
Mas um dia o sorriso já não era mais tão espontâneo;
Mas um dia as mãos já não estavam mais tão ávidas pelo encontro;
Mas um dia os corpos não se entenderam mais;
Mas um dia, faltou paixão e sobrou sinceridade;
Mas um dia chegou uma mensagem;
Mas um dia, toda a estrutura ficou frágil;
Mas um dia, um dos dois parou de acreditar;
Mas um dia, a conversa não foi mais tão natural;
Mas um dia, não se atravessava mais a cidade;
Mas um dia, os planos passaram a ser apenas isso: planos;
Mas um dia, você percebe que idealizou demais;
Mas um dia, a crônica mais linda que eu ainda iria escrever, não vai mais acontecer;
Mas um dia, o amor se foi!
E aí um dia, lá na frente, você precisa pensar em recomeçar.
Pensar em falhar novamente, mas falhar melhor, como diz o poeta*!
Assim seja!
* Samuel Beckett (“Pra frente o pior”, em Companhia e outros textos)
